O consumidor pode preparar o bolso. Mesmo com a queda do preço da carne no atacado, que registra redução de até 42% em janeiro em relação a dezembro, essa retração não vai chegar aos supermercados. Pelo menos não na mesma proporção. Especialistas ouvidos pelo Diário apontam que o produto deve seguir como vilão do bolso do consumidor neste ano, com expectativa de novas altas, de até 10%, em abril.
Enquanto a revisão de preços não ocorre, dados de pesquisa feita pela Scot Consultoria mostram que o quilo da picanha, que em meados de novembro era vendido pelos frigoríficos por R$ 30, custou R$ 19 em janeiro e agora sai por R$ 17,56 para os varejistas. No entanto, o consumidor que procurou o corte no mês não pagou menos do que R$ 30 no quilo nas gôndolas dos supermercados, valor semelhante ao praticado em dezembro. O filé mignon também registrou queda no atacado de 42% no mesmo período.
O consultor de mercado e zootecnista Alex Lopes da Silva explica que a diminuição dos preços não chegou ao consumidor final porque o varejo absorveu a alta da arroba do boi entre outubro e novembro do ano passado, quando a oscilação foi de até 40%.
“Além disso, nos meses de janeiro e fevereiro é normal que o escoamento do produto seja mais lento e o varejo reduz isso gradativamente. Isso deve acontecer lentamente, até que o preço da carne se torne atrativo para a venda”, diz.
O consultor lembra que nova safra de carne é esperada no mercado para março, o que deve segurar o valor do produto por pouco tempo. “Na verdade, já estamos no período de safra, mas foram abatidos muitos animais magros para segurar o consumo no ano passado e o rebanho ainda não se recuperou. Por conta disso, não temos aumento de oferta como acontece nesta época. É preciso aguardar para ver, mas a perspectiva não é das melhores”, avalia.
O engenheiro agrônomo da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) Fábio Vezzá de Benedetto lembra que os preços médios da carne têm registrado pequenas quedas desde janeiro na região e mesmo assim um quilo de coxão mole não custa menos do que R$ 15,50 nos supermercados do Grande ABC. “A carne subiu muito e de maneira muito rápida. Mesmo com as quedas (que chegaram aos 6,75% por aqui), elas seguem caras.”
Para o diretor de Economia da Apas (Associação Paulista de Supermercados) Martinho Paiva, a manutenção dos valores atuais no varejo não acontece para segurar o alto faturamento dos grupos. “O preço da arroba (15 kg) da carne está custando cerca de R$ 101. No fim do ano ele chegou a R$ 108. Se comparar dá para ver que não foi redução tão grande. Além disso, de dezembro até aqui os supermercados já baixaram os preços do produto em até 20%”, argumenta.
Alta aumenta consumo de opções de suínos e frango
Com o preço da carne de boi nas alturas – mesmo a de segunda não custa menos de R$ 12,50 – é cada vez maior o número de pessoas que migram para cortes suínos e frango para segurar o orçamento. No entanto, aumento da demanda desses produtos também já dá sinais de esgotamento.
“Isso é cíclico. Se há maior procura por um determinado produto e a produção dele não está preparada, uma hora o valor dele também aumentará para segurar isso”, explica o diretor de economia da Apas, Martinho Paiva.
No Grande ABC, o frango é o item mais buscado para substituir a carne bovina e o pesquisador da Craisa, Fábio Vezzá de Benedetto, conta que o item teve oscilação de até 15% desde novembro. “Agora a carne suína é a bola da vez, mas isso é mercado e ela também já registrou alta nos últimos dias”, afirma.