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Preço da carne na exportação dobra em 8 anos

Já faz tempo que os exportadores brasileiros de carne bovina não sabem o que é monotonia.

Preço da carne na exportação dobra em 8 anos

Já faz tempo que os exportadores brasileiros de carne bovina não sabem o que é monotonia. No fim de 2005, registros de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e no Paraná levaram vários países a embargar o produto brasileiro, situação que foi gradativamente revertida. Em 2008, a União Europeia, que era um dos maiores clientes do Brasil, impôs restrições ao produto nacional que persistem até hoje. Um ano mais tarde eclodiu a crise financeira global – que ainda não foi embora e afetou a demanda. Mais recentemente, as revoltas em países árabes também trouxeram instabilidade nas vendas. Sem contar o caso atípico da doença da “vaca louca”, no Paraná, divulgado no fim do ano passado, que levou China e Arábia Saudita (além de outros países árabes) a suspenderem as compras do Brasil.

Mas nada disso impediu que os preços da carne bovina brasileira na exportação dobrassem em termos nominais – ou até mais do que isso, como em 2011 e 2012 – desde 2005, quando os tropeços começaram, até agora. O valor médio da carne in natura na exportação há oito anos era de R$ 2.228,38 por tonelada. Entre janeiro e outubro deste ano, ficou em R$ 4.495,01. Deflacionando os números, a valorização média no período foi de 48,49% para uma inflação mundial de 42,65%, conforme cálculos do Valor Data.

Dois fatores, principalmente, explicam esse quadro: a demanda da Ásia – leia-se China, sobretudo – e a menor oferta em outras regiões produtoras de carne bovina, como Argentina, Estados Unidos, União Europeia e Austrália, o que abriu espaço para a carne brasileira em mercados importadores.

Enquanto as vendas para a União Europeia recuaram, reflexo da exigência do bloco comercial de que a apenas propriedades rastreadas e com certificação forneçam bovinos para exportação da carne, os embarques para Hong Kong dispararam. Ninguém admite, mas extra-oficialmente sabe-se que a maior parte dessa carne é destinada ao mercado chinês.

Os volumes vendidos à Europa caíram de 378,1 mil toneladas em 2006 para 110, 2 mil este ano, entre janeiro e outubro. Na mesma comparação, os embarques para Hong Kong mais que quadruplicaram e chegaram a 301,4 mil toneladas, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec).

Os números mostram que as vendas ao mercado asiático compensaram em parte as perdas para a União Europeia. É preciso, ponderar, contudo, que o mix de produtos é diferente, já que os países do bloco europeu demandam cortes nobres do traseiro e Hong Kong demanda principalmente cortes de dianteiro, ainda que também adquira carne de primeira.

O presidente da Abiec, Antônio Camardelli, observa que o cenário levou “as empresas a se adequarem ao novo perfil de consumo”. Como a UE impôs restrições ao Brasil, os exportadores buscaram espaço em outros mercados, com destaque para Ásia e Oriente Médio.

Foi a demanda, na visão de Camardelli, que permitiu a mudança de patamar de preços. Ele avalia que se Europa não tivesse imposto tantas restrições – uma série delas também afetou as vendas do Brasil dentro da cota Hilton – o preço médio nas vendas externas estaria em patamares mais altos.

Para explicar o comportamento dos preços, uma fonte de um frigorífico exportador observa que, apesar da crise de 2008, as economias emergentes continuaram crescendo e o processo de urbanização foi acelerado no mundo. “Não só houve aumento do consumo de uma maneira geral, como as pessoas passaram a comprar mais carne com o aumento da renda”, diz. “A ascensão social é um fenômeno mundial”, acrescenta.

Nesse cenário de avanço dos emergentes, a “Ásia deixou de ser promessa e virou realidade” no que diz respeito à demanda por carne bovina, afirma.

A fonte aponta ainda a dificuldade de produção de carne bovina em grandes players do segmento num momento de aumento da demanda. Além da menor produção na União Europeia em decorrência da diminuição dos subsídios, os Estados Unidos também estão produzindo menos bovinos, ainda um reflexo da seca que atingiu o país nos últimos dois anos, afetando a oferta de grãos e elevando os custos de produção.

O Brasil ocupou parte do espaço desses produtores no mercado internacional e também conseguiu driblar as restrições europeias, com vendas de cortes nobres para o mercado doméstico brasileiro, onde a renda da população também cresceu, lembrou.

Outro especialista do setor observa que atualmente o “Brasil não tem acesso a mercados de preços altos para a carne bovina”. No entanto, tem visto aumentar a demanda de regiões como Hong Kong e países do Sudeste Asiático. Segundo ele, que também atua em frigorífico, não fosse o embargo de Arábia Saudita, Iraque e China à carne brasileira por causa do caso atípico de “vaca louca” a performance das vendas e dos preços teria sido melhor.

Camardelli, da Abiec, lembra um outro fator que contribuiu para a valorização da carne bovina brasileira no mercado exportador. “A matéria-prima subiu e houve equalização dos preços [do boi] com outros países”, diz.

Um sinal de que a demanda pelo produto brasileiro tem sustentado os preços, diz fonte de um grande frigorífico, é que nem a desvalorização de 15% do real neste ano em relação ao dólar derrubou os preços médios da carne na exportação. Geralmente, quando o dólar se valoriza, os importadores tendem a pedir descontos já que os exportadores ganharão mais em reais nas vendas. Isso não tem acontecido, observa.