Responsável por 70 a 80% da composição da ração animal, o milho tem trazido preocupação para os produtores de aves e suínos. A alta do preço do grão no comércio brasileiro e a diminuição dos estoques públicos nas regiões consumidoras impulsionaram as cadeias produtivas a discutir medidas emergenciais para abastecer o mercado com preços acessíveis e, assim, reduzir prejuízos.
A melhoria no programa de venda do milho balcão, a utilização de instrumentos governamentais para o escoamento dos excedentes do grão das regiões produtoras e a desoneração de PIS e COFINS para importação de outros países estão entre as principais medidas discutidas pela Comissão Nacional de Aves e Suínos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), durante reunião, nesta semana.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre janeiro e fevereiro deste ano, o Brasil exportou 9,8 milhões de toneladas de milho, mais que o dobro do embarcado no mesmo período de 2015, quando acumulou 4,2 milhões de toneladas. Essa alta, somada à desvalorização do real frente ao dólar, pressiona os custos de produção de aves e suínos, já que o grão pode impactar 70% no total dos custos.
Enquanto o setor produtivo de milho se redesenhou, investindo em produtores capacitados, armazéns próprios nas propriedades e desenvolvendo a infraestrutura logística para escoamento da safra de Mato Grosso para fora do país pelo Arco Norte, a produção independente de aves e suínos pouco se atentou a mecanismos de proteção de mercado para seus principais insumos, o milho e a soja. “Por conta disso, alguns produtores brasileiros vêm importando o milho de países vizinhos, mas para tanto, precisamos nos certificar dos impactos das medidas para desonerar os tributos PIS e COFINS e aliviar, de fato, o bolso do produtor”, explicou o presidente da Comissão e presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal (FAPE/DF), Renato Simplício.
Suinocultura no Plano ABC – A produção sustentável de suínos visando à baixa emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) na atmosfera é uma das prioridades para o setor. Um dos focos do projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é aperfeiçoar a linha de crédito específica para financiar o tratamento de dejetos animais dentro das diversas linhas que compõem o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono). Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Nilo Chaves de Sá, essa técnica pode transformar os dejetos em adubo fértil, bioenergia e proporcionar o aumento da renda e produtividade do suinocultor.
“Esse plano é de extrema importância, pois trará potencial impacto na economia de carbono, além de valorizar uma produção mais sustentável, com foco na viabilidade financeira através da adoção da tecnologia nos biodigestores”, disse. Durante a reunião, Nilo de Sá lembrou que na 21ª Conferência do Clima (COP-21), em 2015, o Brasil se comprometeu em reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 43% até 2030. Um dos pilares propostos é o aumento de área do tratamento de dejetos animais em 4,4 milhões de hectares.
Compartimentação – Os membros da Comissão Nacional de Aves e Suínos também discutiram as regras de compartimentação da produção, de acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Para o diretor de produção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ariel Mendes, também presente no debate, a compartimentação da avicultura e suinocultura pode ser uma alternativa para garantir o fluxo do comércio exterior de carnes e material genético. “O compartimento permite a divisão de cada núcleo de produção, estabelecendo o rastreamento sanitário pleno e alcançando gestões mais rápidas em caso de surtos sanitários”, afirmou Mendes.
O Programa de Compartimentação foi criado pela OIE em 2006, mas só começou a ser desenvolvido em 2008, com o Brasil saindo na frente, investindo em projetos pilotos. Trata-se de um modelo, no qual todos os elos que compõem uma cadeia industrial são isolados de doenças, por meio de medidas rigorosas de biosseguridade e monitoramento criterioso para garantir o status sanitário daquele compartimento. “Seria uma alternativa para as empresas não serem afetadas por restrições de mercado impostas por outros países, caso ocorra surtos de doenças. O problema é que, além de serem elevados os custos para sua implantação, existe a sobreposição de frigoríficos e a alta eficiência do Serviço de Vigilância Oficial (SVO)”, destacou o assessor técnico da Comissão Nacional de Aves e Suínos da CNA, Victor Ayres.