Da Redação 22/06/2005 – O acirramento da concorrência mundial entre exportadores de oleaginosas, açúcar, trigo, arroz e produtos animais, conjugado ao aumento da produtividade, provocará um novo ciclo de queda dos preços reais da maior parte dos produtos agrícolas nos próximos dez anos. A previsão é de relatório conjunto da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do braço da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sobre as perspectivas agrícolas para o período entre 2005 e 2014.
Do lado dos exportadores, o estudo mostra que o comportamento de Brasil, Argentina e outros países emergentes fortes nos agronegócios terá influência “primordial” para a evolução dos mercados. Do lado dos importadores, a importância da China e da Índia chega a tal ponto que um choque mesmo fraco de demanda ou oferta desses gigantes provocará “ajustes externos não negligenciáveis”.
OCDE e FAO apontam, também, que a produção agrícola global deverá aumentar mais lentamente que durante o intervalo 1995-2004. Mas o consumo tende a continuar crescendo, estimulado pelo desempenho econômico e pelo aumento da população nos países em desenvolvimento. A importância relativa do crescimento das populações na evolução da demanda de produtos agrícolas, porém, cairá no longo prazo. As projeções não mudam, mesmo com uma liberalização comercial na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), segundo a OCDE, porque estão baseadas em critérios macroeconômicos.
A expansão do comércio agrícola será, em todo caso, inferior à das trocas de outros produtos, por conta das barreiras comerciais em países desenvolvidos. A tendência que se confirma é de países do Sul, em desenvolvimento, suprirem principalmente outros do próprio Sul, tendo assim um papel crescente na expansão agrícola mundial.
As duas organizações projetam aumento de mais de 1% ao ano na produção mundial de cereais, essencialmente em países em desenvolvimento. A taxa de crescimento da produção de cereais nos países industrializados, por sua vez, deverá ser duas vezes menor que a das nações em desenvolvimento, sobretudo em razão da melhora do rendimento.
O aumento das importações da China e de outros países asiáticos empurrarão, segundo o relatório conjunto, os preços de trigo para o alto no curto prazo, mas no longo prazo as cotações devem cair por volta de 11%. Já o preço do arroz deve aumentar, estimulado pelas importações da Indonésia.
A produção global de oleaginosas poderá crescer, em média, 1,9% ao ano entre 2005 e 2014, menos que na década passada. De novo a expansão é maior (3%) nos países em desenvolvimento do que nos países da OCDE (0,7%).
A produção nas nações em desenvolvimento destaca-se particularmente nos casos de carnes e lácteos. O recuo da produção de carne nos membros da OCDE, de 41% em 1995 para 38% em 2014, contrasta fortemente com as cifras previstas para o Brasil e China, que deverão contribuir com 33% e 10%, respectivamente, da expansão mundial da produção global de carne em 2014.
A produção mundial de leite, por sua vez, deverá aumentar em média 2% ao ano. Já os preços tendem a declinar 15% no caso de queijo e 3% no do leite em pó integral. Da mesma forma, a produção de açúcar segue elevada, e os preços mundiais podem oscilar entre US$ 165 e US$ 195 por tonelada em termos absolutos até 2014, mas cair em termos reais. Os preços das carnes bovina, suína e de frango também tendem a cair.
“O que se vê é que os altos custos de produção nos países industrializados estão sendo cada vez mais contestados globalmente pelos supridores capazes de produzir mais barato”, diz um economista da OCDE. A OCDE e a FAO notam, ainda, que a concentração e a globalização da indústria alimentícia, além do controle crescente das normas dos produtos agrícolas, exercerão provavelmente uma influência cada vez maior na produção e no comércio. Ou seja, o produtor de um país em desenvolvimento terá de se dobrar a normas externas para entrar na cadeia global de valor.
A OCDE publicou ontem um segundo relatório, com a avaliação das políticas agrícolas de seus 30 membros. O volume de subsídios continua estável, por volta de US$ 280 bilhões por ano, mas nos EUA, a tendência tem sido de aumentar as ajudas contra-cíclicas, mesmo quando os preços caem menos.
Já a expansão da União Européia aumentou o valor da produção agrícola do bloco em menos de 10%, segundo a OCDE. O impacto do alargamento tem sido aumento de preços para açúcar e carne bovina, alta na produção de suínos e frango, limite na produção de leite, carne bovina e açúcar, modesto aumento no comércio intra-UE e amplo aumento na renda agrícola no médio prazo.