Os preços da carne bovina não irão cair este ano, afirmou a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), dado principalmente ao baixo volume ofertado e os altos preços pagos pelo milho e a soja. Com isso as carnes de frango, suíno e peixe, que também devem ficar mais valorizadas, podem ganhar mais espaço na mesa dos brasileiros.
Para a entidade, nos últimos anos o mundo se dedicou a uma mudança de perfil, tanto de produção quanto de consumo da carne do boi. Com a falta de novas áreas para ampliar a produção, Ademar Silva Júnior, vice-presidente de Finanças da entidade, acredita que grande parte dos criadores brasileiros deva optar pela ampliação de animais de confinamento. “Há uma tendência de redução do rebanho e de aumento da produtividade, por meio de criações intensivas, pois não é mais possível abrir novas áreas para pastagens”, afirmou.
Dados da CNA indicam que o total de cabeças criadas em confinamento deve subir de 2 milhões para 3 milhões de animais, ainda este ano. O Brasil tem um rebanho bovino superior a 200 milhões de cabeças.
Segundo Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o aumento dos animais em confinamento já é uma realidade, entretanto o Brasil precisa mudar alguns itens para que se torne competitivo. “Os movimentos em relação aos confinamentos têm sido bastante substanciais, mas o diferencial seria que o confinamento não tivesse a mesma legislação que uma unidade rural, que possui inúmeras necessidades de comprovações. O confinamento tem de ser encarado como uma gestão de pastagens. Precisamos de novas tecnologias”, disse ele.
Contudo, o CNA aposta não somente em preços mais elevados na carne bovina, mas em uma mudança de consumo. “Com certeza a carne vai aumentar de preço. Talvez o bife não vá mais combinar com o arroz e feijão. A carne passará a ser um artigo de luxo”, brincou ele.
Camardelli frisou que não somente a carne bovina será um item de luxo, mas todos os alimentos. “Acredito que em um futuro bastante próximo, dados os acontecimentos, as reservas dos países que hoje são feitas em ouro, em dólar, ou em reservas cambiais, o que valerá de fato será a reserva de alimentos. E nisso o Brasil é muito favorecido”, finalizou.
Quem também está preocupado com a alta de preços dos bovinos e dos grãos, são os produtores de frango. Segundo o presidente, Francisco Turra, da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), a alta no preço do boi já puxa o preço do frango, dado principalmente ao aumento na demanda. Com a migração dos consumidores, devido ao frango ser mais barato, somando-se ao aumento das commodities o encarecimento das aves é certo. “Para nós o impacto no custo da carne é muito alto, visto que milho e soja compõem 97,5% da ração animal brasileira. Então, é óbvio que se os insumos se mantiverem em alta, o custo também aumentará.”
Apesar do frango ser a carne mais barata ante a suína e a bovina, Turra afirmou que este ano tanto a carne de porco, quanto de peixe devem ganhar mais mercado. “O consumidor, a médio prazo, não terá o frango como ancora de tudo. É óbvio que essa carne ainda será a mais barata e atraente, já que bovinos e suínos estão com preços muito altos. Mas a carne suína e de peixes também ganharão espaço no mercado brasileiro”, comentou Turra. No setor de suínos não há diferença. A expectativa é de preços mais elevados a partir do mês de março, dado ao custo de produção mais elevado. “Acreditamos em uma recuperação dos preços a partir de março. Só não vejo preços nos mesmos patamares do ano passado, até porque o crescimento da demanda não será tão vigorosa”, disse o diretor de Mercados da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Jurandir Machado.
No entanto, o diretor lembrou que apesar de preços elevados os custos de produção também estão maiores. Então, os rendimentos para os produtores certamente serão menores. Machado garantiu que apesar dos aumentos de preços previstos para os suínos, os patamares devem ficar abaixo dos registrados no fim do ano passado. “Este ano ficará muito parecido com a média de 2010. Não acredito que os preços chegarão ao teto visto no final de 2009, subirão mas não será igual, pois temos a forte concorrência de outras carnes como frango e peixe que estão ganhando muito destaque”, finalizou.
Migração
Com os valores em patamares elevados, muitos consumidores migraram para carnes mais baratas comparadas à bovina (suína e de frango). Para Camila Brito, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), foi essa procura por outras carnes que provocou a maior valorização no mercado de suínos e aves. “Neste começo de ano, os patamares de preços ainda continuam elevados comparados aos de anos anteriores. Porém, a demanda por carnes é tipicamente menor no início de ano”, disse.
A carcaça casada de boi que custava R$ 4,82 o quilo no atacado de São Paulo em janeiro de 2010, ficou em R$ 6,35 kg aumentos de 32% . A carcaça comum suína obteve um aumento menos substancial nesse mesmo período de comparação, de apenas 7%, passando de R$ 4,18 kg no ano passado, para R$ 4,47 neste ano. Já o frango congelado saltou de R$ 2,76 o quilo em janeiro de 2010, para R$ 3,23 kg este ano.