Depois da alta forte e contínua iniciada em meados de 2009, os preços das exportações brasileiras inverteram a mão nos últimos dois meses, dando início a uma trajetória de queda que deve se estender ao longo de 2012. Em setembro e outubro, as cotações recuaram 1% em relação ao nível de agosto, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). É uma baixa pouco expressiva, mas emblemática, dizem analistas. Nos últimos anos, o aumento de preços garantiu saldos comerciais robustos, sustentados especialmente pela disparada das commodities, a despeito do crescimento expressivo das importações. No acumulado do ano, contudo, a alta ainda é significativa, de 25,5% na comparação com o mesmo período de 2010.
As cotações das commodities, que dominam a pauta de exportações do Brasil, tendem a seguir em baixa daqui em diante, dadas as perspectivas de menor crescimento global, com provável recessão na Europa, uma economia americana ainda fraca e temores de alguma desaceleração da China. Especialistas apostam que os preços médios das vendas externas brasileiras em 2012 ficarão até 10% menores do que as deste ano. Como os preços da importação, que é concentrada em manufaturados, devem cair menos, os termos de troca vão piorar, levando a uma redução do superávit comercial.
O economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, acredita que os preços de exportações devem de fato seguir em queda nos próximos meses, vendo os números de setembro e outubro como o início de uma tendência. Ele não espera, contudo, tombos acentuados. O baixo crescimento nos países desenvolvidos, com uma possível recessão na Europa, já estaria em alguma medida refletido na tendência dos preços, diz Ribeiro. Como a liquidez deve continuar elevada no mercado internacional e as economias emergentes, em especial a China, tendem a manter um ritmo de expansão ainda razoável, os preços dos produtos primários não vão despencar, avalia ele. Com base nesse cenário, que não contempla uma ruptura do porte da quebra do Lehman Brothers, ocorrida em setembro de 2008, o economista estima que os preços de exportação em 2012 podem ficar de zero a 5% menores do que a média de 2011.
Ribeiro destaca que os preços de exportação oscilam menos que as cotações das commodities nos mercados internacionais. Há contratos acertados com antecedência, e os exportadores tentam esperar momentos mais favoráveis para fechar negócios, nota ele. Não por acaso, os preços só caíram em setembro e outubro, reagindo com defasagem ao recuo dos produtos primários observado nos mercados. “A era de alta de preços internacionais chegou ao fim em abril de 2011. Faz sete meses que eles registram trajetória de declínio suave”, como lembra o economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores. Segundo ele, a economia global está ajustando para baixo seus preços de equilíbrio, aos tempos de baixo crescimento que “conhecemos neste ano e vamos conhecer nos próximos”.
O presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, tem uma visão um pouco mais pessimista do que a de Ribeiro em relação aos preços de exportação. Segundo ele, o crescimento pouco animador nos EUA e muito fraco na Europa terá efeito não desprezível sobre os preços de commodities, que respondem por pouco mais de 70% da pauta de exportações do Brasil.
Para Castro, uma queda de 5% a 10% dos preços de exportações é factível, com a tendência de o recuo ser mais próximo de 10%. As cotações do minério de ferro e do complexo soja, que têm peso expressivo nas vendas externas, deverão ficar em níveis consideravelmente abaixo da média de 2011. “Os preços de praticamente todas as commodities atingiram o ápice neste ano”, diz Castro. São níveis que não são mais sustentáveis no mundo de hoje.
Para Silveira, as cotações das exportações brasileiras “podem demorar muitos anos para retornar ao patamar do primeiro semestre de 2011”, lembrando que eles também foram inflados por movimentos especulativos.