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Alimentos

Preços devem continuar em alta, diz economista

Oferta de alimentos aquém da demanda deve afetar preços das commodities agrícolas, diz estudo.

Preços devem continuar em alta, diz economista

Apesar das boas perspectivas para a produção brasileira de grãos nos próximos anos, as commodities agrícolas não sairão da cena inflacionária pelo menos até 2020. Com a oferta global de alimentos crescendo em níveis aquém da demanda, o papel de regular o consumo de alimentos para uma parcela relevante da população mundial será exercido pelos preços mais elevados.

Essas foram algumas das projeções feitas por Antonio Lício, economista e consultor do Fórum do Futuro – entidade ligada ao ex-ministro da Agricultura Alysson Paulineli -, no seminário “Agricultura como Instrumento de Desenvolvimento Econômico”, realizado ontem pelo Valor e pela Bayer CropScience, braço agrícola da multinacional alemã, em São Paulo.

“Atender à demanda nutricional por alimentos projetada pela FAO [a Agência para Agricultura e Alimentação da ONU] para essa década é uma missão impossível”, afirmou Lício, referindo-se ao relatório em que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a FAO estimam que a produção global de alimentos teria de aumentar 20% para atender à crescente demanda. O Brasil teria de contribuir com 40% desse crescimento, projetava o estudo de 2011.

Pelas contas do economista, o mundo precisaria ampliar a área plantada com os principais grãos – milho, arroz, trigo e soja – em 183 milhões de hectares até 2020 para satisfazer a demanda. Esse avanço contempla, ainda, um incremento de produtividade de 20%, conforme o modelo econométrico criado por Antonio Lício.

A questão é que, na avaliação do economista, os 183 milhões de hectares não serão alcançados, e muito menos com um crescimento de produtividade da ordem de 20%, uma vez que a curva de incremento de produtividade vem se desacelerando nos últimos anos, segundo ele. A perspectiva esmiuçada por Lício também leva em conta um argumento histórico. “Nunca na história o mundo aumentou a área plantada com grãos em mais de 84 milhões de hectares em uma década”, disse.

No que diz respeito à produtividade, a estimativa feita por Lício não é consensual. Em suas projeções, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) prevê que a produtividade do milho do país saltará 20,3% entre as safras 2011/12 e 2020/21, de 9,35 toneladas por hectare para 11,25 toneladas por hectare.

Trata-se de um avanço significativo para uma agricultura como a americana, que já atingiu níveis de produtividade elevados. Para efeito de comparação, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que o Brasil colherá 4,9 toneladas por hectare de milho na atual safra, a 2012/13.

Lício estimou, ainda, que o Brasil tem potencial para ampliar a área plantada em até 56 milhões de hectares, mas apenas 20 milhões seriam acrescidos até 2020, dado o atual ritmo de ampliação de área plantada. Do potencial total, o economista diz que 29 milhões de hectares viriam do aumento do plantio da safra de inverno, 21 milhões de áreas que hoje são pastagens e apenas 6 milhões com a abertura de novas áreas.

Também presente ao seminário, o presidente da Bayer CropScience para Brasil e América Latina, Marck Reichardt, mostrou-se reticente quanto à projeção de que os preços das commodities agrícolas vão continuar subindo. “Não vejo os preços aumentando muito”, disse ele, lembrando que uma forte alta nos preços das commodities tende a desencadear uma intervenção dos governos.