Os persistentes preços recordes do milho do Brasil, o segundo exportador mundial do grão, estão levando produtores de suínos a abater matrizes e processadores de carnes de aves a fechar unidades.
Os estados do sul do país, grandes produtores de aves e suínos, foram os mais atingidos pela subida dos preços da principal matéria-prima da ração, com fechamentos de pelo menos três unidades de abate, disse o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Até 15% da capacidade de produção de carne suína e de aves está fechada no maior exportador de carne de frango do mundo e o quarto maior exportador de carne de porco, estimou ele. Isso representa 225 mil toneladas a menos de produção ao mês.
A situação afeta toda a indústria de carne, que está demitindo trabalhadores e perdendo dinheiro, em meio a uma crise econômica do país, que sofre sua pior recessão desde 1930.
“O preço das coxas de frango no supermercado é de 5 reais por quilo. Isso mal paga a água para produzir a carne”, disse à Reuters o presidente Aurora Alimentos, Mário Lanznaster, que comanda a terceira maior companhia produtora de carne de porco e aves do Brasil.
Ele estimou que os custos mínimos de produção estão ao menos 50 por cento mais altos.
A empresa vai reduzir a produção em 8 por cento com férias coletivas de um turno em agosto em sua planta de Abelardo Luz (SC), e vai fechar as operações de toda a unidade em setembro se as condições não melhorarem.
O maior produtor global de carnes, JBS, e o maior exportador mundial de carne de frango, BRF, aumentaram os preços no mercado doméstico pela segunda vez este ano para tentar compensar o aumento de custos.
Perdendo dinheiro
Os processadores de porco e de frango do Brasil estão perdendo dinheiro por meses com uma escassez interna inesperada no milho que empurrou os preços locais para níveis recordes.
Como o real desabando em relação ao dólar no ano passado, os comerciantes e exportadores venderam quantidades recordes do grão no exterior, deixando a indústria local com preços estratosféricos da matéria-prima.
Em abril, o governo aliviou limites à importação de milho para ajudar a atender a demanda interna, mas os preços permanecem acima de 53 reais por saca.
Alguns produtores de suínos em Mato Grosso estão abatendo matrizes, disse recentemente à Reuters o secretário-adjunto de Agricultura do Estado, Alexandre Possebon.
A associação dos produtores de carne de porco afirmou que os produtores estão reduzindo a inseminação de suínos de 10 a 15 por cento.
A Averama Alimentos, que abate 280.000 aves por dia em suas duas unidades, informou que os preços recordes para o grão a forçaram a fechar sua operação maior em Umuarama, no Sul do país.
As companhias agora contam com um alívio da oferta devido à chegada da segunda safra, cuja colheita deve se intensificar em mais algumas semanas.
“Mas vai demorar um pouco para os preços caírem”, disse o especialista em carnes da Safras & Mercado, Fernando Iglesias.