Redação AI 02/04/2004 – 08h23 – O setor de aves volta a enfrentar um fantasma conhecido: produção crescente e consumo deprimido, combinação que já derruba os preços do frango no país. Levantamento feito pela Jox Assessoria Agropecuária mostra que, em março, o preço médio do frango resfriado no médio atacado paulista ficou em R$ 1,75 o quilo, o menor desde junho do ano passado. A cotação média da ave viva ficou em R$ 1,25, a mais baixa também desde junho de 2003.
E os preços continuam a cair. No primeiro dia de abril, a cotação média do frango resfriado foi R$ 1,58 o quilo no médio atacado paulista, segundo a Jox. Estava em R$ 1,60 no dia anterior. O frango vivo caiu de R$ 1,20 no dia 31 de março para R$ 1,15 no dia 1o.
Para analistas e fontes do setor, o que está derrubando os preços do frango é a maior oferta de aves no mercado num momento de consumo restrito por conta da queda na renda da população.
“Os avicultores se iludiram com a gripe das aves e aumentaram a produção”, diz Nelson Martin, diretor do Instituto de Economia Agrícola, ligado à Secretaria de Agricultura de São Paulo. Ele se refere ao maior alojamento de pintos de corte nos últimos meses, estimulado pelas perspectivas de crescimento nas exportações de frango em decorrência da gripe das aves em países produtores.
Levantamento da Apinco (Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte) mostra que a produção do setor no primeiro bimestre subiu 6,5%, para 667,7 milhões de cabeças.
Para Érico Pozzer, presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), o volume de exportação não “explodiu” como imaginavam alguns segmentos. Clóvis Puperi, da União Brasileira de Avicultura (UBA), concorda que “muitos esperavam explosão de exportações”.
Os números da Abef (reúne exportadores de frango) mostram que houve crescimento dos embarques, mas sem a falada “explosão”. Nos dois primeiros meses do ano, os volumes somaram 349,5 mil toneladas, alta de 7,8% sobre igual período de 2003.
De acordo com o diretor-executivo da Abef, Cláudio Martins, o crescimento está dentro do esperado pelo setor. “No início do ano, previmos que haveria um crescimento de 8% a 10% nos volumes”, afirma. Parte desse incremento deve vir em decorrência da gripe das aves. No trimestre, cujos números ainda não estão fechados, o crescimento deve ser da ordem de 4,5%.
Além de as exportações terem crescido menos que o esperado por alguns segmentos, as greves dos fiscais agropecuários e no porto de Paranaguá também atrapalharam os embarques de frango, observam Martin e Puperi. “A greve fez exportadores deixarem de levar produto aos portos”, diz o representante da UBA. Com isso, tudo o que não pôde ser embarcado veio para o mercado interno, acrescenta Érico Pozzer, da APA.
Foi o que bastou para pressionar ainda mais o mercado, já que existe desequilíbrio entre oferta e demanda devido ao fraco consumo. Nelson Martin, do IEA, observa que o consumo de bens não duráveis está em queda desde 2003 em função da redução na renda. Só em fevereiro passado, segundo o IBGE, o rendimento médio real das pessoas ocupadas caiu 5,7% em relação a igual período de 2003.
Puperi acredita que os preços já chegaram ao fundo do poço e que o consumo pode melhorar com o reajuste do salário mínimo e de algumas categorias nos próximos meses. A redução no ritmo de crescimento da produção também é uma saída já discutida pelo setor.
A queda de preços preocupa também , segundo a APA, porque acontece num momento de alta dos custos de soja e milho. Conforme a APA, o custo de produção do frango hoje está entre R$ 1,40 e R$ 1,45.