A Rússia, mercado para o qual o Brasil chegou a exportar quase 300 mil toneladas de carne de frango, está perto de atingir a autossuficiência no setor. De acordo com dados do Serviço Federal de Estatísticas da Rússia, citados pela publicação especializada World Poultry, o país será capaz de atender 96% de sua demanda com produção própria no fim deste ano, um nível recorde para a indústria.
Conforme o órgão de estatísticas, a produção de frango na Rússia de janeiro a setembro deste ano somou 3,7 milhões de toneladas, 213 mil toneladas ou 6,1% maior do que durante o mesmo intervalo de 2012. Dados preliminares indicam que a produção deve alcançar 4,9 milhões de toneladas no fim do ano, 6% acima do nível de 2012.
A publicação World Poultry afirma que o avanço desse setor será possível tanto com o aumento do consumo de aves no país ou com o desenvolvimento das exportações. Atualmente, os russos consomem 26 quilos per capita ano, em média, de carne de frango, e especialistas estimam que esse número pode atingir 30 quilos nos próximos cinco a seis anos.
A Rússia foi um mercado muito relevante para o Brasil de 2002 até 2010 (ver quadro), com alguns soluços, mas as exportações brasileiras perderam espaço mais recentemente. O Brasil chegou a vender 295 mil toneladas ao mercado russo em 2002, uma fatia de 18% do total das exportações brasileiras de frango naquele ano. Em 2013, até outubro, os volumes alcançam ínfimos 1% do total de 3,220 milhões de toneladas do produto embarcadas pelo Brasil, segundo números da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
O sistema de importação russo para o frango é baseado em cotas, cujos volumes têm diminuído nos últimos anos. Essa redução é, na verdade, um reflexo da política de autossuficiência para o setor de frango adotada pelo governo da Rússia em meados da década passada, quando incentivos ao segmento passaram a ser concedidos. Deu resultado, e o país pôde reduzir suas importações.
Em 2008, por exemplo, a cota total (outros países mais Brasil) foi de 1,3 milhão de toneladas, de acordo com dados da Ubabef. Os números consideram as vendas para a união aduaneira formada por Rússia, Cazaquistão e Bielorrússia. O Brasil ficou com 165 mil toneladas e os Estados Unidos, com a maior parte dos 1,13 milhão restantes. No ano passado, a cota caiu para 729 mil toneladas (70 mil toneladas para o Brasil e 659 mil para outros países – também a maior parte atendida pelos EUA).
A alegação pelo governo russo de problemas sanitários em países fornecedores do frango, como os próprios EUA e o Brasil, também acabaram influenciando a queda de volumes importados.
Para o diretor de mercados da Ubabef, Ricardo Santin, a produção local russa ganhou terreno com o fomento do governo e com o aumento dos custos de produção em países exportadores como Brasil e Tailândia.
Ele avalia que a Rússia continuará importando frango ainda que atinja a autossuficiência, numa estratégia para manter o equilíbrio do mercado e evitar situações que possam afetar os preços. “Vão continuar importando para complementar a produção local”, afirma Santin.
Com o fomento ao setor, algumas indústrias de frango da Rússia já exportam o produto, algo impensável há alguns anos. Os volumes são pequenos, mas o movimento é emblemático. Em agosto deste ano, por exemplo, foram embarcadas as primeiras 20 toneladas de frango russo para os Emirados Árabes Unidos, de acordo com a publicação World Poultry.
As principais regiões de produção da frango na Rússia são Belgorod, Leningrado, Voronezh, Rostov, Chelyabinsk, Novgorod, Krasnodar e Stavropol, além da República do Tartaristão.