Puxada por forte desaceleração nos preços agrícolas, a primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) recuou de 1,21% para 0,59% entre agosto e setembro e surpreendeu economistas, que esperavam perda de fôlego mais lenta desse indicador. A saída do impacto da seca nos Estados Unidos sobre os preços de grãos, segundo analistas, vai continuar ao longo do mês – embora em intensidade menor do que a sinalizada no primeiro decêndio -, mas são aguardadas pressões adicionais nas carnes, como reflexo da recente escalada agropecuária, o que deve repercutir tanto no atacado como no varejo.
Na medição atual, os preços agropecuários ao produtor se desaceleraram de 4,3% para 2%, tendo como principais influências a soja (9,93% para 3,48%) e o milho (18% para 1,6%), commodities mais afetadas pela estiagem americana. Apesar das altas menores, o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros, sustenta que o problema climático terá efeitos secundários sobre os IGPs até o fim de outubro.
Quadros explica que a valorização dessas matérias-primas nos últimos meses ainda está sendo repassada aos seus derivados, com destaque para as carnes, o que deve elevar preços de alimentação no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e no próprio IPA. Na medição atual, os preços de bovinos no atacado deixaram queda de 1,27% para aumento de 1,1%, enquanto as aves avançaram de 3,2% para 5,5%.
Com peso de 30% no indicador geral, o IPC subiu 0,29% na primeira prévia do IGP-M de setembro, ante alta de 0,08% em agosto, com ligeira elevação nos alimentos, de 0,48% para 0,53%. Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, a taxa desse grupo pode alcançar 1% no IGP-M de setembro com a disparada prevista para as carnes bovinas, efeito que deve chegar primeiro no atacado.
“No IGP-10, já acredito que a carne bovina apareça em alta e que isso se intensifique ao longo do mês”, projetou Romão, também devido ao início da entressafra do gado. Com altas menores nos grãos, no entanto, o analista pondera que os preços agropecuários serão o principal vetor de desaceleração do IGP-M em setembro, que deve encerrar o mês, segundo sua estimativa, com aumento de 0,95%. Em agosto, o indicador subiu 1,43%, maior taxa mensal desde novembro de 2010.
Embora em menor intensidade, os produtos industriais também influenciaram a perda de fôlego da primeira prévia do IGP-M, passando de 0,75% para 0,26% entre agosto e setembro. O destaque foi o minério de ferro, cuja deflação se intensificou de 2,4% para 4,1%, maior impacto negativo sobre os preços ao produtor.
A economista Priscila Godoy, da Rosenberg & Associados, avalia que a taxa negativa do minério vem na esteira dos sinais de desaceleração da economia chinesa, grande consumidora da commodity, efeito que se dissemina sobre outras cadeias de produtos industriais. Essa ajuda aos IGPs, no entanto, deve se reverter no médio prazo com o anúncio do governo chinês do pacote de US$ 150 bilhões de investimentos em infraestrutura para os próximos anos.
Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), com peso de 10% no indicador geral, subiu 0,16% no primeiro decêndio de setembro, ante 0,39% em agosto.