Vedete dos frequentadores de academia – por ter muita proteína e ajudar na construção de músculos perfeitos – o ovo estava salgando as dietas nos últimos dias, mas, parece que o jogo virou. Isso porque o preço que estava alto caiu, e fez sorrir os consumidores. Já os produtores não podem dizer o mesmo. Nos primeiros 20 dias deste ano, o valor da dúzia de ovos no atacado teve uma queda de 7,4% no comparativo ao mesmo período de dezembro. Para quem produz, a redução foi ainda maior: em torno de 20% em comparação ao mês anterior. A operação matemática é simples: enquanto a oferta se manteve estável, a demanda reduziu. O resultado da conta é a diminuição no preço.
O valor da dúzia comercializada no atacado caiu de R$ 2,98 para R$ 2,76, e a explicação de quem entende do assunto passa pelas férias escolares e as altas temperaturas. “Sem a merenda escolar e no calor, o consumo de ovos é menor. Normalmente, em janeiro alguns produtos sofrem mesmo essa queda, que se reflete no preço. Um deles é o ovo”, argumenta Ricardo Martins, chefe da Seção de Informações de Mercado da CeasaMinas. Em janeiro, a expectativa da Ceasa é de que sejam comercializadas 4 mil toneladas de ovos.
Mas da mesma forma que o consumo e o preço caem, eles também sobem. E essa é a expectativa para fevereiro e março. É que além da volta das atividades escolares, os produtores de ovos contam um período de grande demanda: a quaresma, época em que tradicionalmente os católicos deixam de comer carne vermelha e que corresponde aos 40 dias entre o carnaval e a Semana Santa. Nesses dias, aumenta o consumo de carne branca (peixe e frango) e ovos em substituição ao boi. E consequentemente, os preços tendem a acompanhar a demanda.
De acordo com o conselheiro-diretor da Avimig (Associação de Avicultores de Minas Gerais), Aulus Assumpção, outro fator contribui para esse fôlego financeiro para o produtor mineiro. A partir de março há uma redução na produção dos ovos, em razão da queda na luminosidade. “Como acontece todo ano, nesse período você tem uma diminuição na oferta, que cai ainda mais no inverno. A galinha diminui a produção, enquanto a demanda aumenta. Consequentemente, o preço sobe”, diz ele.
Aulus Assumpção ressalta que é importante o avicultor estar preparado para essas oscilações de produção e preços ao longo do ano. O pior período para o setor talvez seja mesmo janeiro. Para se ter uma ideia, a caixa com 30 dúzias de ovos em 31 de dezembro era comercializada a R$ 85. Na segunda-feira passada, dia 23, chegou a R$ 65. Além de amargar a queda no preço, ele lembra que o produtor ainda teve que enfrentar, ao longo de 2016, dois fatores negativos para o setor: o aumento do preço do milho e da soja, os dois principais alimentos das aves. E não necessariamente o custo maior foi repassado ao consumidor, já penalizado com a crise econômica.
Exportação Segundo dados do IMA (Instituto Mineiro de Agricultura), até setembro do ano passado, havia 1.861 granjas avícolas de corte e postura em Minas Gerais. Ao longo de 2015, segundo estudo realizado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foram produzidos em Minas 214 milhões de dúzias de ovos – o equivalente a 9,9% do total do Brasil, que chegou a 2,17 bilhões de dúzias. O estado ocupa hoje a quarta colocação na produção de ovos, atrás apenas de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. No entanto, em 2016, segundo a CeasaMinas, 21,9% dos ovos comercializados em Minas vieram de outros estados, como Mato Grosso, São Paulo e Paraná, enquanto boa parte da produção mineira é enviada principalmente, para o Nordeste brasileiro.
Gripe aviária O setor aviário vive atualmente o drama da ocorrência de gripe aviária nos plantéis avícolas de países da Ásia, Europa e Chile. A proximidade territorial entre o Brasil e o país latino-americano e possíveis riscos de disseminação da doença na avicultura nacional tem levado temor aos produtores. Alerta sanitário emitido pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e enviado no último dia 16 aos avicultores de corte, postura comercial e reprodução, proibiu durante 30 dias as visitas a estruturas produtivas.
“O impedimento contempla abatedouros, granjas, fábricas de ração e incubatórios, bem como fornecedores, clientes, agentes de governo de missões internacionais, auditores e técnicos de manutenção de equipamentos, assim como qualquer outra pessoa alheia à instalação produtiva em questão”, diz trecho do alerta. A cautela tem motivo: o Brasil é hoje o terceiro maior produtor de ave e o primeiro em exportações de carne de frango do mundo.