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Mercado

Produzir mais sem desmatar

<p>Posição de destaque do Brasil no agronegócio tem tudo para ser reforçada nos próximos anos, com a produção de alimentos e biocombustíveis.</p>

Na safra deste ano, o Brasil deverá colher cerca de 135 milhões de toneladas de grãos, o que representa pouco mais de 6% da produção mundial, estimada em 2,2 bilhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Se no comércio internacional de bens agrícolas e industriais e serviços o País detém 1,2% de participação nas exportações, nos embarques agrícolas a presença verde-amarela no planeta é muito maior: chega a 7%, incluindo não apenas grãos, como a soja, mas também outros produtos como carnes, café, açúcar e etanol.

A posição de destaque do Brasil tem tudo para ser reforçada nos próximos anos, com a produção de alimentos e biocombustíveis, uma das alternativas para reduzir a emissão de gases estufa. “O Brasil poderá ser protagonista no campo da agroenergia”, diz Carlos Lovatelli, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio. “Os biocombustíveis são parte da solução para reduzir a emissão de poluentes globais, e o Brasil deverá ser destaque nesse cenário porque tem terra, planta e sol e grande competitividade na produção agrícola”, diz o ex-ministro da Agricultura e atual coordenador da GV Agro, Roberto Rodrigues.

O desafio que se coloca entre os produtores é elevar a produção de alimentos, para abastecer tanto o mercado interno quanto externo, sem desmatar, ou seja, crescer de forma sustentável. Uma tarefa que poderá ser conquistada com o respeito à legislação ambiental e a manutenção de investimentos no aumento de produtividade e investimentos em tecnologia, de forma que seja possível dar um salto de produção sem ampliar enormemente a área plantada, como comprova a história recente do setor.

No início da década de 80, o Brasil colheu pouco mais de 50 milhões de toneladas de grãos em cerca de 35 milhões de hectares de área plantada. Na safra 2008/2009, a área plantada cresceu 30% para quase 50 milhões de hectares, mas a produção quase triplicou. A receita? O aumento da produtividade, que tornou o produtor brasileiro o mais competitivo do mundo.

“O Brasil hoje tem a maior disponibilidade de área agriculturável do mundo e boa parte do aumento futuro de sua produção será ancorada no aumento de produtividade, o que confere sustentabilidade a esse movimento”, diz o economista Douglas Nakazone, da Agroconsult, uma das principais consultorias de agronegócio do país.

A divisão de proteção de cultivos da Basf vê no Brasil um terreno fértil de negócios nos próximos anos. O país responde, dependendo do ano, entre 60% e 70% dos negócios da empresa na América Latina. “O Brasil será um dos polos de crescimento da empresa no mundo. Apenas na cultura de cana-de-açúcar há um potencial de aumento de 30% da produtividade da produção sem aumento de área plantada”, afirma o diretor da unidade de proteção de cultivos da Basf Brasil, Eduardo Leduc. Entre 2008 e 2010, a Basf investirá US$ 50 milhões em sua unidade de Guaratinguetá (SP) na construção e ampliação em até 50% da capacidade de produção das linhas de alguns produtos.

O setor sucroalcooleiro investe na pesquisa e desenvolvimento do chamado etanol de segunda geração, fabricado a partir da biomassa, uma nova rota tecnológica que chama a atenção não apenas de tradicionais usinas do segmento, mas também da Petrobras, que em 2010 deve colocar em operação uma planta de demonstração da tecnologia, última fase antes do ingresso no mercado. Bem-sucedida, com a técnica, será possível aumentar o rendimento em 60% do processo industrial sem ocupação de um hectare a mais de cana-de-açúcar.

Apoiar a manutenção de rebanhos mais produtivos e eficientes é um dos objetivos da Tortuga, empresa brasileira de controle familiar, que é uma das maiores do mundo no setor de suplementação animal. Com 95% da receita de R$ 723 milhões obtida em 2008 atrelada ao mercado interno, a empresa prevê crescer neste ano. “Estimamos aumento de 10% dos negócios”, diz seu presidente, Max Fabiani.

Os cálculos variam conforme a fonte, mas o Brasil ainda dispõe seguramente de mais de 50 milhões de hectares que poderiam ser convertidos em áreas agriculturáveis e que não pressionariam o bioma amazônico ou regiões intocadas do cerrado. Mas a preocupação ambiental é crescente. Nos últimos anos, ambientalistas têm se preocupado com o aumento da área plantada de cana-de-açúcar, que tem ocupado pastagens ineficientes e feito alguns pecuaristas se deslocarem para o cerrado e para a região Norte.

A preocupação com essa realidade tem feito com que pecuaristas brasileiros recebam pressões externas, como de redes de supermercados e bancos de fomento, que passaram a exigir a rastreabilidade do gado e certificados de que a soja utilizada como matéria-prima para ração animal não venha de novas fronteiras agrícolas que possam prejudicar o bioma amazônico. “O mercado acaba exigindo que critérios sustentáveis sejam disseminados ao longo da cadeia produtiva”, fiz Nakazone.

Em junho, redes como Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour, as maiores cadeia de supermercados em atividade no Brasil, anunciaram que não comprarão mais carne dos fornecedores do Pará que não apresentarem garantia de que sua carne não provém de desmatamento ilegal. Outro problema a ser enfrentado na região Amazônica é a grilagem de terras. Segundo trabalho do Greenpeace, não há controle sobre os títulos de terra da região, “sendo incerto o estado legal de quase metade da região”.