Sem firulas e toque de bola, podemos dizer que o agronegócio mundial já tem, e terá na próxima década, quatro protagonistas de fato: Brasil e Estados Unidos dominando as exportações; Índia e China marcando decisivamente as importações. A evolução no jogo da oferta e demanda de alimentos serão majoritariamente definidas por essas quatro nações. Os times estão em campo. Quais serão, então, os destaques nessa copa mundial da alimentação?
A União Europeia, praticamente sem elasticidade para aumentar sua capacidade de produção, vai figurar ainda como um grande bloco do mercado, é claro. Mas seu peso estratégico talvez se desloque mais e mais para um posicionamento de referência regulatória no progresso dos padrões de qualidade e de segurança alimentar do comércio internacional.
Países como Argentina, Austrália e Canadá, por exemplo, têm presença marcante no agronegócio, mas devem enfrentar limitações de oferta, segundo as projeções. A China, por outro lado, é um grande produtor, porém está mudando seu perfil econômico e tende a aumentar mais as importações de alimentos. E a África, embora abrindo fronteiras agrícolas, não deve por enquanto interferir estrategicamente na oferta mundial.
Já o Brasil está jogando em casa: terras agricultáveis ainda fartas, liderança tecnológica para os trópicos, amplo portfólio de produtos, forte ascensão no mercado internacional e disponibilidade para exportações (sem riscos para o abastecimento interno). Reúne assim vantagens comparativas para conquistar maior espaço no agronegócio mundial e ampliar sua participação em vários segmentos – como soja e carnes, entre outros.
Outro fator favorável ao Brasil é a produtividade que cresceu muito em praticamente toda a nossa pauta agropecuária, mas ainda temos espaço para impactos tecnológicos positivos sobre a nossa eficiência produtiva vegetal ou animal. Na soja, por exemplo, os técnicos falam em potencial de ganhos de produtividade de cerca de 10%, em curto ou médio prazo.
Isso tudo em um cenário de área cultivada por habitante em declínio, o que favorece a competitividade brasileira: nos anos 1970, o planeta possuía cinco hectares cultivados por habitante; hoje tem dois hectares e quando chegarmos a uma população de nove bilhões de pessoas (projetada para 2050) essa proporção será menor ainda.
Onde estão as ameaças dessa copa, então? Estão na logística estrangulada, nos problemas de infraestrutura, nos processos regulatórios demorados – como em fitossanidade, conforme reclamam produtores e indústria, na redução de investimentos públicos em várias esferas, ou na educação e capacitação especializada de recursos humanos, entre outros fatores — todos estratégicos para o crescimento e a sustentabilidade do campo. Ou seja: por enquanto, nossos principais adversários estão aqui mesmo, dentro de casa.