Inflação em alta e atividade econômica enfraquecida. Esse é o cenário vislumbrado pelos economistas consultados pelo Banco Central (BC) para o Brasil em 2012. O Boletim Focus mostra que as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram de 5% na semana passada para 5,11% nesta semana, no quinto movimento consecutivo de alta. Há pouco mais de um mês, os economistas acreditam que o indicador poderia ficar próximo à meta de 4,5% fixada pelo governo. Naquela época, as previsões apontavam avanço de 4,85% no indicador neste ano.
De lá pra cá, as estimativas de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, baixaram de 2% para 1,81%. A projeção de alta de 0,1% na produção industrial no período se converteu em queda de 1%. E, pelas contas do economista Thiago Carlos, da Link Investimentos, a retração pode ser ainda maior, chegando a 2% neste ano.
“As previsões para inflação, PIB e produção industrial em 2012 continuarão sendo ajustadas nas próximas edições do Boletim Focus”, diz Carlos. Para ele, o consenso de mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar em 5,3%, enquanto as previsões para o crescimento do PIB devem recuar até 1,5%.
Aos poucos, afirma o economista da Link, as estimativas para o indicador oficial de inflação estão incorporando a recente disparada nos preços das commodities agrícolas, derivada da quebra da safra de grãos nos Estados Unidos. “Elas também estão contabilizando a alta do IPCA em julho, que ficou acima do esperado.” No mês passado, o indicador subiu 0,43%, ultrapassando as expectativas de 11 economistas consultados pelo Valor Data, que projetavam, na média, avanço de 0,39% no período.
A tendência de avanço na inflação, entretanto, não deve interromper o processo de redução da taxa básica de juros (Selic), afirma Priscila Godoy, da Rosenberg & Associados. “Como esse aumento nas estimativas para o IPCA deriva de um choque de oferta, e não de um excesso de demanda, o BC vai continuar baixando os juros para impulsionar a economia”, diz a economista, que espera mais dois cortes de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, que encerraria 2012 em 7% ao ano. A projeção da Rosenberg situa-se um pouco abaixo da mediana das previsões presentes no Focus, que é de 7,25% ao fim de 2012. Atualmente, a Selic encontra-se em 8% ao ano.
Para Flávio Combat, da Concórdia Corretora, há no mercado a percepção de que o impacto da crise internacional sobre a economia brasileira foi mais forte que o esperado, o que dificultou a retomada da atividade. “Se o governo não tivesse lançado medidas de incentivo, a situação seria ainda pior”, diz Combat.
Thiago Carlos, da Link, afirma que ainda não há sinais de uma retomada consistente da economia brasileira. Para ele, os dados positivos de atividade se concentram na indústria automobilística, que foi beneficiada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Precisamos esperar mais um pouco para ver como os outros setores vão se comportar.”