O governo não se deixará vencer pela guerra cambial e está de olho nos países exportadores que usam terceiros mercados, inclusive os Estados Unidos, para driblar as barreiras impostas aos produtos que chegam ao Brasil com preços desleais, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Ele demonstrou apreensão em relação ao cenário financeiro global e disse que o crescimento da economia brasileira é sustentável. Reiterou que a defesa comercial é uma prioridade do Executivo, que tomará “medidas importantes nesse campo”.
“Até os Estados Unidos estão sendo usados como país de triangulação de exportações para o Brasil. A mercadoria sai de um determinado país, vai para os EUA, muda de etiqueta e vem para o Brasil como se fosse uma mercadoria americana. Talvez por isso os EUA estejam com um superávit comercial em relação ao Brasil”, disse na segunda reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social no governo Dilma Rousseff.
“Não vamos deixar a guerra cambial nos derrotar com desvalorizações artificiais das taxas de câmbio de outros países. Estaremos atuando na área de política cambial, estamos intensificando a defesa comercial do país”, acrescentou o ministro, que concentrou sua exposição na complexidade do cenário externo atual.
Empresários presentes, no entanto, criticaram, sob a condição do anonimato, a demora do governo em adotar medidas efetivas de defesa comercial. De janeiro a junho deste ano, a balança comercial entre o Brasil e os EUA apresentou um déficit de US$ 4 bilhões. Houve déficit também negativo em 2010 (US$ 7,7 bilhões) e 2009 (US$ 4,4 bilhões). De 2000 a 2008, no entanto, a balança comercial bilateral foi superavitária para o Brasil.
Mantega afirmou que um eventual fracasso do governo de Barack Obama na tentativa de chegar a um acordo com o Congresso para elevar o teto do endividamento do país teria efeitos negativos na economia mundial. “Seria uma grande insensatez se não se conseguisse superar essa situação. Acredito na resolução, mas confesso minha apreensão pelo rumo que as coisas estão tomando. Espero que haja sensatez ao fim desta semana e que a coisa se resolva.”
Ele disse ainda que a crise financeira dos países europeus vive nova fase: passou de privada dos bancos para soberana. E ponderou que a conjuntura internacional pode atrapalhar os países em desenvolvimento, mas não a ponto de prejudicar o crescimento das suas economias. Ressaltou, entretanto, que o crescimento da economia nacional se mantém sustentável devido à solidez das contas públicas e o aumento da demanda doméstica. Mantega negou que a economia esteja superaquecida e descartou a existência de uma bolha de crédito no setor imobiliário.
Empresários presentes na reunião reforçaram os apelos por medidas concretas de auxílio à indústria, na medida em que segue o cabo de guerra entre os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento acerca das desonerações tributárias a serem incluídas no pacote de medidas para elevar a competitividade do produto nacional.
Presidente do Conselho de Administração da Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter afirmou que “já está acontecendo” um processo de desindustrialização no Brasil. Ele ponderou que o país mantém uma cultura de trabalhar com um cenário de falta de divisas e dólares e, por isso, precisa se adaptar à atual conjuntura de maior oferta da moeda americana no mercado doméstico. Ele defendeu, por exemplo, que o governo amplie o uso de mecanismos tributários que contenham o ingresso de capitais.
“Se queremos um país desenvolvido, precisaremos ter uma indústria desenvolvida. Do modo que estamos, estamos prejudicando o desenvolvimento industrial”, afirmou Gerdau depois da a reunião do Conselhão.
O presidente da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, reforçou o coro. Lembrou que a competitividade dos produtos brasileiros vem sendo corroída pelas altas taxas de juros, falta de reformas estruturais e problemas de infraestrutura. “A indústria está passando uma fase muito perigosa”, alertou Skaf.