Redação (12/05/06)- Enquanto produtores de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul engrossam os protestos contra a crise no campo, exportadores calculam as perdas desde que as manifestações tiveram início, há três semanas. De acordo com Sérgio Mendes, diretor Geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), os prejuízos acumulados dos exportadores estão próximos de US$ 100 milhões.
“O grande receio é que os compromissos brasileiros sejam cumpridos pela soja americana e pelo farelo e o óleo da Argentina”, afirma Mendes. Segundo ele, alguns exportadores já dão sinais de “aflição”, temendo que os bloqueios nas estradas permaneçam e provoquem o desabastecimento de cargas no porto de Santos (SP).
Na região Centro-Oeste, onde os protestos começaram no dia 24 de abril, as indústrias exportadoras de soja estão paradas há mais de dez dias. Em Rondonópolis (MT), produtores bloqueiam as portarias das fábricas da ADM e da Bunge desde a semana passada.
“As fábricas pararam de processar soja porque não deixamos descarregarem os caminhões”, afirmou Ricardo Tomczyk, diretor da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-MT).
Ontem (dia 11), agricultores bloquearam as estradas BR-163 e BR-364, impedindo a passagem de qualquer veículo durante todo o dia. Também houve protestos em outros municípios do Estado. Há notícias de que começa a haver canibalismo entre pintinhos, em granjas no Mato Grosso, por falta de ração, que é produzida com farelo processado localmente.
Tomczyk disse que os protestos seguirão até que o governo federal defina medidas de apoio ao setor. Ele acredita que o plano de ajuda do governo federal trará ações paliativas e que os produtores só se recuperarão das perdas sofridas daqui a pelo menos quatro anos.
No Mato Grosso do Sul, os produtores estão obedecendo às liminares que proíbem o bloqueio de rodovias e agências fazendárias (onde o produtor recebe a nota fiscal de venda). Eduardo Riedel, da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), diz que o setor está pronto para um protesto em massa na terça-feira, dia 16, quando representantes do setor se reúnem com o presidente Lula para avaliar a crise.
Em Goiás, produtores fizeram protestos nas estradas essa semana. Segundo Mozart Carvalho de Assis, presidente do Sindicato Rural de Jataí (GO), agricultores do Estado também preparam-se para atos públicos na próxima semana.
Em Minas Gerais, os cafeicultores prometem fechar trechos da rodovia Fernão Dias (BR-381) com máquinas agrícolas e caminhões. O setor alega acumular um prejuízo de cerca de US$ 2,5 bilhões e quer a securitização das dívidas.
No Paraná, produtores também defendem o alongamento da dívida por 20 anos. Ágide Meneguette, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep), observou que o Estado teve perda de renda agrícola de R$ 9,5 bilhões nos último cinco anos.
A expectativa é que a renda neste ano atinja R$ 23 bilhões, queda de R$ 1 bilhão em relação a 2005. Meneguette disse que algumas granjas da região tiveram de fazer acordos com produtores para manter o abastecimento de farelo de soja. A Cocamar decidiu paralisar temporariamente seu complexo industrial localizado em Maringá, em apoio aos produtores.
Em São Paulo, produtores fizeram protestos em estradas e municípios rurais, como Ituverava, Cândito Mota e Guaíra. Em Guaíra, região responsável por 35% da soja no Estado de São Paulo, o Sindicato Rural prepara um “tratoraço”, que será realizado na segunda-feira no município e em cidades vizinhas. Na terça-feira, o setor se reúne com o governador do Estado, Cláudio Lembo (PFL).