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Economia

Quebra da safra brasileira não foi tão significativa, diz analista do Rabobank

Renato Rasmussen reforça expectativa de acomodação de preços de grãos nos próximos meses.

Quebra da safra brasileira não foi tão significativa, diz analista do Rabobank

Os preços da soja mantém a tendência de alta no curto prazo, mas devem cair nos próximos meses. É a avaliação do Rabobank em um relatório divulgado recentemente. De acordo com o banco, o aperto na oferta nos Estados Unidos e as incertezas relacionadas ao clima na América do Sul, especialmente no Brasil, no começo do ano, pressionaram o mercado a ponto de colocar a soja a patamares acima de US$ 15 por bushel na bolsa de Chicago.

No entanto, as mais recentes projeções para o novo ciclo apontam para uma tendência de pressão de baixa sobre as cotações, que podem chegar a US$ 11 por bushel. “A quebra da safra de verão do Brasil não foi tão significativa. Apesar dos efeitos da seca, a perspectiva para a produção brasileira é muito boa”, afirma Renato Rasmussen, analista de mercado de grãos do Rabobank no Brasil, em entrevista a Globo Rural.

No último relatório de acompanhamento de safra, divulgado no início deste mês, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para cima sua estimativa de produção de grãos, que retomou o patamar de 190 milhões de toneladas. No caso específico da soja, a produção deve crescer 5,6% em relação à safra 2012/2013 e chegar a 86,082 milhões de toneladas.
 
Rasmussen lembra que, neste ano, parte dos produtores brasileiros resolveu plantar uma “safrinha” de soja. Ele calcula que a revisão feita r pela Conab já contabilize a segunda safra, o que, na avaliação dele, não vinha sendo feito antes. “Mas acredito que safrinha de soja foi uma questão pontual. O agricultor está ciente dos riscos”, diz ele, que é agrônomo de formação.

Além da expectativa de maior produção brasileira, o analista do Rabobank lembra que os produtores dos Estados Unidos devem aumentar o plantio de soja e diminuir o de milho, conforme as expectativas do próprio governo do país. Com isso, a tendência é de recuperação dos atuais estoques, que estão apertados, com pressão sobre as cotações da soja.

“Até o final do ano, a gente aposta em uma reversão dos preços. Se acontecer uma boa produção nos Estados Unidos, com uma produção boa na América do Sul, vai pressionar os preços. A gente está vendo que os estoques de curtíssimo prazo estão muito apertados, mas a gente está com uma condição de reverter esses estoques.”

Milho
Com relação ao mercado de milho, a expectativa do Rabobank também é de uma acomodação nos preços, que podem chegar ao nível de US$ 4,70 por bushel na bolsa de Chicago. As atenções do mercado internacional neste momento estão voltadas, em parte, para o plantio nos Estados Unidos, que deve ser menor que o do ano passado além de estar mais lento que no ano passado.

O relatório, o banco destaca, com base em dados dos sistemas de meteorologia dos Estados Unidos, que existe pelo menos 50% de chances de ocorrência do fenômeno El Niño, marcado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “A partir da definição da área plantada nos Estados Unidos, a produção dependerá do desenvolvimento climático, principalmente entre maio e junho”, destaca o relatório, lembrando ainda que o inverno americano foi bastante rigoroso, o que pode retardar o degelo do solo e atrasar o plantio.

 O mercado está atento também à segunda safra no Brasil, que teve a semeadura atrasada em função do clima, gerando incertezas. O analista do Rabobank no Brasil destaca que parte do plantio da safrinha em Mato Grosso, maior produtor nacional, foi feito fora da janela considerada ideal, o que afeta a produtividade da lavoura.

“Temos que ficar atentos. Existe espaço para o mercado trabalhar com preços um pouco mais altos operando clima. Tanto em relação à safrinha aqui do Brasil quanto em relação à safra de milho nos Estados Unidos”, diz Renato Rasmussen, para quem, mesmo com a expectativa de queda em relação ao ano passado, a produção brasileira de milho está “em patamar elevado”.

Outro ponto de incerteza para o mercado de milho é a situação política na Ucrânia e a tensão com a Rússia, terceiro maior exportador mundial do grão. De acordo com o analista, a região Criméia, recentemente anexada pelos russos, está próxima de três importantes portos ucranianos.

“Qualquer problema maior na Ucrânia poderia interromper o fluxo de navios por esses portos. Então o mercado está um pouco ansioso em relação a isso. Essa condição é alheia ao problema de fundamentos, mas temos que monitorar.”

Gripe aviária
O relatório do Rabobank chama a atenção ainda para a situação da gripe aviária no continente asiático, um fator que pode interferir na demanda por grãos, especialmente da China. O documento ressalta que, da parte dos chineses, já ocorreram diversos cancelamentos de embarques de soja para maio do Brasil e da Argentina “supostamente devido aos impactos da gripe aviária.”

Renato Rasmussen lembra ainda que, além do problema na avicultura na Ásia, a suinocultura dos Estados Unidos está sofrendo com o problema da diarreia epidêmica, doença que levou o Departamento de Agricultura do país (USDA) a tomar medidas emergenciais.

Para o analista, de uma forma geral, no curto prazo, os efeitos dessas doenças sobre demanda por milho e soja podem trazer um certo “fôlego” para o mercado. “Essas doenças podem implicar em redução da demanda de soja e de milho, apesar disso ser pontual. É importante considerar que isso dá um pouquinho de fôlego para o mercado.”