As negociações que o governo brasileiro está empreendendo neste ano para a queda de barreiras sanitárias para carnes produzidas no País podem resultar no aumento das vendas externas de carne halal, que exige um processo produtivo adaptado às regras da religião islâmica. Entre os mercados muçulmanos que caminham para abrir as portas neste ano ao produto brasileiro estão a Arábia Saudita, no caso da carne bovina, a Indonésia e a Malásia, no caso das aves.
O corte halal segue uma série de exigências da religião muçulmana. O abate deve ser feito por um religioso, com uma lâmina afiada para garantir a morte instantânea do animal, sem sofrimento, sem cortar a cabeça e deixando todo o sangue escorrer. Além disso, todo o processo deve ser feito voltado para Meca.
No ano passado, o País exportou 1,792 milhão de toneladas de aves e ao menos 318 mil toneladas de carne bovina abatidos pelo método halal. Os volumes correspondem basicamente ao montante importado pelos países do Oriente Médio e norte da África, onde praticamente todas as compras são de carne halal, mas também há exportação dessas carnes para regiões que contam com uma expressiva comunidade islâmica, o que inclui países da África subsaariana e até mesmo da Europa. Somente para o mundo árabe, que engloba 22 países, o Brasil é o maior fornecedor de carne, com quase 2 milhões de toneladas embarcadas no ano passado por mais de US$ 4 bilhões.
Para este ano, a expectativa é que as exportações de bovinos de abate halal apenas para o mundo árabe cresçam 66% em faturamento, de US$ 1,2 bilhão no ano passado para US$ 2 bilhões, afirmou Fernando Sampaio, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). A maior aposta é na abertura do mercado saudita, com 27 milhões de islâmicos. O país deixou de comprar carne brasileira em 2012 após um caso de vaca louca. A expectativa é que as missões que ocorrerão neste semestre destravem o mercado saudita no segundo semestre.
Hoje o Egito é o maior comprador de carne bovina halal do Brasil. Em 2013, os egípcios responderam por 45% do volume exportado para o Oriente Médio e norte da África, seguido pelo Irã, com 19% do total. E a expectativa é que o consumo destes mercados aumente, assim como da Argélia.
O Marrocos também é um alvo dos frigoríficos brasileiros. Hoje o país impõe barreiras tarifárias à carne brasileira de 180% e 100% de sobretaxa. “Ainda este ano devemos visitar o Marrocos para derrubar as barreiras, pois é um mercado importante”, diz Michel Alaby, diretor geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
No caso de aves, o setor prefere não traçar estimativas, mas há um grande otimismo com a Indonésia, que tem uma população de 206 milhões de muçulmanos e onde cada cidadão consome quatro quilos ao ano. “Não dá para saber o potencial, mas geralmente quando se abre um mercado exportamos de 10 mil a 30 mil toneladas”, diz Ricardo Santim, diretor de mercado da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
“Podemos abrir um mercado de mais de 200 milhões de pessoas e as empresas estão se preparando para isso”, diz Ali Saifi, diretor executivo na CDIAL, que certifica abates halal, para quem o Brasil é referência em abate halal até para o mundo árabe.
Além do fim, a demanda pelos cortes halal deve aumentar pelo próprio crescimento vegetativo da população muçulmana no mundo. Estima-se que a população islâmica gire em torno de 1,3 bilhão e 1,5 bilhão de pessoas no planeta e cresça 16% ao ano. E não é toda essa população que vive em países árabes. “Metade da minha certificação é para países não árabes”, conta Saifi. “Até no Japão há empresas que pedem certificado halal pela qualidade.”
O mercado libanês também pode crescer por causa do afluxo de refugiados sírios. Desde o início do conflito, o Brasil se tornou o maior fornecedor de frango para o Líbano.