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Receita do agronegócio recua com seca e preço menor

<p>Quebra da safra dos grãos no Sul do país derruba ganhos</p>

Da Redação 17/05/2005 – A seca no Sul do país, que derrubou a produção de grãos nesta safra – combinada com a desaceleração dos preços internacionais do grãos – vai derrubar também a receita agrícola. Especialistas ouvidos pelo Valor estimam queda de cerca de 10% no faturamento do setor na safra 2004/05 em comparação com o ciclo anterior.

Pelos cálculos da MB Associados, a receita agrícola deve alcançar R$ 108,7 bilhões, 10,5% a menos que em 2003/04, quando somou R$ 121,4 bilhões. Em dezembro passado, quando o impacto da seca nas lavouras era menor, a MB havia estimado uma receita de R$ 117,8 bilhões. Já a MS Consult trabalha com receita de R$ 109,1 bilhões, recuo de 9% sobre a safra passada, calculada em R$ 119,9 bilhões. A estimativa anterior da MS Consult era de R$ 112,2 bilhões.

De acordo com Glauco Carvalho, economista da MB Associados, os preços mais baixos dos grãos e a quebra da safra fizeram a receita recuar. “Os produtores do Sul do país, sobretudo do Rio Grande do Sul, foram os mais prejudicados pela seca”, observou Fábio Silveira, diretor da MS Consult.

De acordo com a Conab, a produção de grãos será de 113,7 milhões ante 119,1 milhões de toneladas em 2003/04. O número utilizado pela MB é de 115 milhões de toneladas e da MS Consult é de 114,5 milhões de toneladas, uma vez que as duas consultorias consideram a produção de algodão em caroço e não em pluma.

A Conab prevê que a produção de soja será de 50,1 milhões de toneladas e a de milho, de 35,9 milhões de toneladas, por conta da seca que dizimou lavouras, principalmente no Rio Grande do Sul.

Em função da menor produção, a receita projetada pela MB para grãos cairá para R$ 56,39 bilhões este ano, 8,2% abaixo dos R$ 71,63 bilhões de 2004. Para chegar a esses números, a consultoria considerou o preço médio anual dos grãos ponderado pelo ritmo de comercialização da safra.

A MS Consult prevê que a receita para os grãos fique em R$ 57,4 milhões, 18,7% menor que na safra 2003/04. Para Silveira, a quebra não alterou o cenário para os preços internacionais dos grãos, que já assimilavam uma safra maior americana. “Se a safra brasileira fosse maior, mesmo assim a receita estaria menor por conta da maior oferta do grão”, afirmou Silveira.

Segundo Carvalho, da MB, “a queda na receita leva a uma desaceleração nos investimentos; não se vende tratores e as vendas de fertilizantes caem”. Ele acrescenta que a situação é mais complicada na região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, onde a produtividade da soja, por exemplo, recuou para cerca de 500 quilos por hectare. “Essa produtividade significa um margem operacional negativa de 50% para o produtor”.

Em outras regiões, como o Centro-Oeste, o clima foi “relativamente favorável”, diz Carvalho, à exceção do Mato Grosso do Sul, também prejudicado pela seca.

Ainda que a situação seja mais grave em algumas regiões que em outras, a perspectiva de receita menor no setor levou produtores de todo o país a pedirem renegociação de suas dívidas.

Os analistas reconhecem a situação difícil para a agricultura este ano, mas avaliam que a renegociação deve ser feita caso a caso. “Teria de haver negociação caso a caso, apenas das parcelas que vencem este ano e não do estoque da dívida”, defende Fernando Homem de Melo, especialista em economia agrícola da Universidade de São Paulo (USP). Ele observa que o desempenho do setor foi favorável entre 2002 e a primeira metade de 2004, portanto a receita dos produtores cresceu nesse período. “Houve acréscimo [de renda] grande nesses anos. Onde o produtor colocou o dinheiro?”

Carvalho, da MB, observa que, em muitos casos, produtores investiram esses ganhos na compra de terras para ampliar o plantio e não em infra-estrutura necessária para armazenagem, por exemplo. “Quem não se preparou, será mais afetado”, afirma o economista.

Homem de Melo defende ainda prioridade para a renegociação de dívidas de produtores do Rio Grande do Sul, os mais prejudicados pelo clima adverso. “Eles vivem o segundo de ano de perdas na safra, mas agora num quadro de preços menores”, pondera.

Para Silveira, da MS Consult, a queda da renda agrícola poderá impactar no plantio de grãos na próxima safra. “Menos capitalizados, os produtores podem reduzir a expansão e o uso de alta tecnologias nas lavouras.” A exceção, segundo ele, são culturas como café e cana-de-açúcar , que têm preços internacionais superiores aos praticados no ano passado.