Depois de amargar uma queda de aproximadamente 30% nas exportações de frango no primeiro trimestre do ano, o setor avícola, a exemplo de outros segmentos da economia, também começa a acreditar que o pior já passou. O presidente da Associação Goiana de Avicultura (AGA), Uacir Bernardes, diz que, na verdade, a crise financeira internacional não chegou a impactar o consumo de frango.
“O que ocorre é que os importadores são grandes trades e distribuidores, que na hora do aperto financeiro, reduzem seus estoques para ganhar liquidez”, diz ele. Mas de acordo com Uacir Bernardes, já em abril o setor registrou os primeiros sinais de recuperação, praticamente empatando com abril do ano passado no volume de exportações. “Em março mantivemos também a paridade com o mesmo período de 2008, embora em faturamento não se tenha recuperado os patamares passados, que eram pelo menos 22% maiores”, diz o dirigente da Uacir Bernardes.
O presidente da AGA admite que não a recuperação no faturamento das exportações não deve ser rápido, até porque ocorreu uma rearrumação do mercado que estabeleceu novos parâmetros de preços. “Estávamos vendendo frango a 1.700 dólares a tonelada, quando a média histórica era de cerca de 1.200 dólares”, pondera o avicultor. Segundo ele, a redução dos preços do frango no mercado internacional não preocupou tanto num primeiro momento, porque a valorização do real frente ao dólar acabava compensando eventuais perdas. “Mais agora começa a preocupar, pois os preços em dólar caíram e o dólar vem se desvalorizando novamente em relação ao real”, diz o dirigente da AGA. De qualquer forma, Uacir Bernardes diz que as expectativas são promissoras, tanto pela retomada das exportações, como pela estabilidade do mercado interno de frango. “Não tivemos queda no consumo interno, mas até pelo contrário, deveremos chegar esse ano aos 40 quilos por habitante por ano, consolidando o frango como a carne mais consumida no País.”
Sedimentando esse otimismo, Uacir Bernardes cita pelo menos dois fatos novos, a fusão da Perdigão Sadia, com a criação BRF, maior exportadora de frango do mundo; e a abertura do mercado chinês. Segundo ele, a BRF tem tudo para consolidar a imagem do País com o maior exportador de carne de frango, tanto em quantidade como em qualidade. Com relação a abertura do mercado chinês Uacir Bernardes diz que é um fato importante, mas pondera que é preciso não mistificar. Segundo ele, é preciso lembrar que a China é o segundo maior produtor de frango do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, razão porque seu potencial de importação é de apenas 370 mil toneladas por ano. “E não quer dizer que vamos exportar esse tanto para os chineses. Eles já compram da Argentina, dos Estados Unidos e de outros países”, esclarece o presidente da AGA. Ele pondera, entretanto, que todo mercado para o frango brasileiro é bem vindo, ainda mais que no caso da China existe uma boa logística de distribuição. “Não é o caso da Índia, que apesar do enorme potencial de consumo, simplesmente não existe distribuidores à altura”, diz Uacir.
O presidente da AGA atribui ao elevado profissionalismo da avicultura brasileira o fato de ter passado relativamente bem pelo período mais grave da crise. Segundo ele, o setor percebeu com bastante antecedência os sinais da crise e ascendeu a luz amarela. “As maiores empresas do setor se reuniram no segundo semestre do ano passado e decidiram reduzir a produção para se adequarem à nova realidade do mercado. Foi uma lição de maturidade, pois evitou um aviltamento exagerado dos preços do frango.”