Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Reflexos da aftosa

<p>Exportadores de carnes ainda temem novos embargos. Segundo o Ministério da Agricultura, lista das barreiras já envolve 49 países importadores</p>

Da Redação 03/11/2005 – Em meio a incertezas que persistem em razão da demora dos resultados dos exames que podem confirmar ou não as suspeitas de focos de febre aftosa no Paraná, os exportadores brasileiros de carnes voltaram a se reunir ontem para reavaliar suas estratégias para evitar que o “efeito dominó” provocado pelos embargos dos países importadores às carnes brasileiras tenham um impacto ainda mais negativo no setor. Quarenta e nove países importadores já impuseram restrições às carnes brasileiras. Malásia e Cabo Verde entraram na lista na terça-feira.

O setor privado cobrou maior transparência do Ministério da Agricultura na coleta e divulgação dos dados sobre a febre aftosa no país. “Há uma falha de comunicação generalizada entre o governo e os Estados e entre os próprios Estados”, disse Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (que reúne os exportadores de carne suína). “O governo ficou de preparar um documento detalhado sobre o foco da doença no país”, disse. Segundo ele, os países importadores precisam de dados mais transparentes para que o próprio governo brasileiro possa transmitir segurança durante as discussões de revisão do embargo.

“Voltamos a discutir as estratégias que podem ser adotadas para reverter o efeito dominó por conta dos embargos”, disse Antônio Camardelli, diretor-executivo da Abiec (que reúne os exportadores de carne bovina). A estratégia é convencer os importadores que impuseram barreiras em todo país, como Chile, Cuba, Filipinas e Indonésia, entre outros, a limitar as restrições ao Mato Grosso do Sul, onde focos foram confirmados. Camardelli disse que o setor e o governo federal têm de ter garantias técnicas convincentes para apresentar aos importadores. Em outubro, as exportações brasileiras de carne bovina totalizaram US$ 154 milhões, queda de 14,4% em relação a igual período do ano passado.

Na terça-feira, novos dez casos de aftosa foram identificados nas regiões de Eldorado e Japorã aumentando para 21 os focos sul-mato-grossenses. Segundo o superintendente federal da Agricultura no Estado, José Antônio Felício, o secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Gabriel Maciel, deverá se reunir amanhã com prefeitos das regiões infectadas no Estado para avaliar as decisões que estão sendo tomadas sobre o vírus.

O Banco do Brasil (BB), por exemplo, aprovou a continuidade da liberação de crédito aos pecuaristas e aos frigoríficos do Mato Grosso do Sul, incluindo compra de vacinas, operações para retenção de animais, renovação de CPRs (Cédula do Produto Rural) e prorrogação da dívidas vencidas para produtores com dificuldade de comercialização.

No Paraná, enquanto isso, os exames realizados até agora não foram conclusivos e novos testes estão sendo feito com resultados aguardados para os próximos oito dias. Em parte em virtude da indefinição paranaense, o governo de São Paulo pediu para que a secretaria de Defesa Sanitária do Estado avalie a Instrução Normativa número 34 (publicada no Diário Oficial de 31 de outubro), que disciplina o trânsito no território nacional de animais suscetíveis à doença, produtos e seus subprodutos, antes de suspender o embargo imposto os Estados do Mato Grosso do Sul e do Paraná. “Ainda não tivemos tempo hábil para fazer uma análise da instrução normativa”, disse o secretário de Agricultura paulista, Duarte Nogueira. O Estado, responsável por quase 60% dos embarques nacionais de carne bovina in natura, não quer correr riscos comerciais depois de ter concluído o rastreamento de seu rebanho e ter descartado a ocorrência da doença.

A Instrução Normativa do Ministério da Agricultura inclui 41 municípios como área de risco sanitário. Do total, cinco são no Mato Grosso do Sul – Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Novo Mundo, onde foram confirmados focos e interditadas propriedades em um raio de 25 quilômetros – e quatro no Paraná (Amaporã, Loanda, Grandes Rios e Maringá, que estão sob investigação). Outros 32 municípios limítrofes, considerados áreas de risco sanitário, completam a lista do governo.

O Rio Grande do Sul, por sua vez, flexibilizou as barreiras para o ingresso de animais e seus subprodutos no Estado a partir de terça-feira. Em Santa Catarina – livre de febre aftosa sem vacinação aos olhos do governo federal – as barreiras sanitárias para os Estados situados ao norte também foram amenizadas.