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Reflexos da crise política no câmbio preocupam o campo

<p>Ministério confirma renda agrícola de R$ 97,567 bilhões este ano.</p>

Da Redação 23/08/2005 – O efeito que a crise política ainda poderá provocar no câmbio – e, por conseqüência, nas exportações brasileiras – é vista como motivo de preocupação para o setor de agronegócios, embora o pronunciamento de domingo do ministro da Fazenda Antônio Palocci tenha sido avaliado positivamente por representantes do setor que participaram de seminário realizado pela Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio (ABMR&A) ontem em São Paulo.

“Ainda não é possível avaliar os efeitos que essa crise política poderá provocar no setor, que já vem sofrendo com a estiagem e a falta de recursos. Mas certamente o ministro Palocci marcou um gol com seu pronunciamento sobre as acusações feitas a ele”, afirmou José Luiz Megido, presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABM&R).

A combinação entre a quebra da safra e o dólar menos convidativo às exportações deixará como saldo, em 2005, uma considerável queda da renda agrícola (“da porteira para dentro”) neste ano. Em seu último levantamento, baseado em dados de julho, José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, sinalizou que a renda das 20 principais culturas deverá somar R$ 97,567 bilhões neste ano, ante R$ 109,468 bilhões em 2004. Na pesquisa anterior, Gasques previa R$ 97,650 bilhões para 2005.

“Há um receio de que o prolongamento da crise [política] afete ainda mais o câmbio”, afirmou Persio Luiz Pastre, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e diretor de relações externas da CNH Latino Americana. Pastre observou que toda a cadeia dos agronegócios teve uma perda próxima a US$ 10 bilhões na safra 2004/05 devido à estiagem e à valorização do real sobre o dólar.

Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), considera possível que o governo federal volte a interferir no mercado para garantir uma taxa de câmbio favorável às exportações. “O agronegócio de modo geral exporta uma parte muito grande da produção e não há condições de o país se manter competitivo no mercado externo com o câmbio atual”, afirmou ele.

Em contrapartida, Roberto Padovani, sócio-diretor da Tendências Consultoria, afirma que a atual crise política não tem “fôlego” para atingir a economia do Brasil, devido aos fundamentos técnicos “favoráveis”. Para ele, o país passou por avanços institucionais – como a abertura do mercado e a consolidação da democracia – que trouxeram uma maior possibilidade de solvência da dívida externa, fatores que estimulam a confiança dos investidores.

Padovani acredita que o cenário interno e externo está passando por uma fase de crescimento sustentável que durará alguns anos. Além disso, a conjuntura nos EUA é “confortável” e não há indícios de ruptura desse sistema no curto prazo. “Há uma alta correlação entre commodities e taxas de crescimento. Nos EUA, o crescimento está controlado”, afirma Padovani, acrescentando que é pouco provável uma “explosão” nos preços das commodities nos próximos anos.

Segundo Padovani, a consultoria Tendências prevê uma taxa de crescimento para o país de 3%. “Por um lado, a a política econômica acertou o passo, mas, por outro, a taxa é pequena em vista do que poderia ser”.