A estiagem tirou dos sojicultores paranaenses R$ 1,85 bilhão. Mas para quem conseguiu colher, a reação das cotações internacionais, aliada à alta do dólar, garantirá aos agricultores margens positivas mesmo em tempos de crise. Com uma quebra de 2,5 milhões do toneladas na safra verão, segundo balanço da Expedição Safra RPC, o retorno sobre o investimento feito nas lavouras ficará aquém do esperado, mas nem por isso a safra 2008/09 deixará de ser lucrativa no Paraná. “A soja paranaense terá uma rentabilidade surpreendentemente boa para um ano de seca e crise financeira”, resume o analista Steve Cachia, da Cerealpar.
O segredo, revela Flávio França Jr., da consultoria Safras & Mercado, é escalonar as vendas e fazer média de preço. A cotação da saca de 60 quilos, que na época do plantio rondava a casa dos R$ 41, há duas semanas faz média de R$ 45 nas principais praças de comercialização do estado, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab). Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, a saca atingiu ontem a máxima de R$ 50. Já o dólar saiu de R$ 1,65 em setembro para R$ 2,20 atualmente. “Este é um ótimo momento para negociar”, aconselha o analista.
O produtor, contudo, não está seguindo a recomendação. Segundo Cachia, nesta época do ano, metade da safra paranaense já deveria estar vendida, mas apenas um quarto da produção está comprometida. Levantamento da Safras mostra que somente 20% da soja foi negociada, quando normal seria 31%. Para a consultoria Agrural, 35% da produção está vendida no Paraná, contra 53% no ano passado. Os dados oficiais, levantados pelo Deral no início da semana, apontam que 33% da soja paranaense foi comercializada. No ano passado, nesta mesma época, 48% da safra havia sido negociada.
Agora, mesmo com as perdas da seca, a conclusão é que o nível de capitalização do produtor paranaense é alto, e isso permite que ele segure a produção por mais tempo, explicam analistas. “Por ser mais capitalizado, o agricultor paranaense tem condições de especular um pouco”, afirma Cachia. “Para maximizar o lucro e compensar parte das perdas com a estiagem, o produtor segura as vendas e assume o assume o risco”, concorda o agrônomo do Deral Otmar Hubner. “Como não precisa vender para fazer caixa, o agricultor segura a produção esperando que o preço suba. Usa a soja como poupança. Se vendesse o grão, teria que colocar o dinheiro no mercado financeiro, em banco, que está tendo rendimento menor”, relata França Jr.
Ele ressalta, contudo, que apesar da valorização recente, segurar a soja para vender no segundo semestre não é um investimento garantido. “Não tem como afirmar que os preços serão melhores nos próximos meses”, diz. Para Pedro Collussi, analista de grãos da Agra FNP, tudo depende da definição da próxima safra norte-americana. “A quebra na América do Sul já foi precificada. O foco agora é nos Estados Unidos”, concorda Cachia.
Mercado
Até agosto, o mercado internacional de grãos tende a ficar bastante volátil, reagindo às mudanças nos mapas climáticos dos Estados Unidos, prevê o analista Pedro Collussi, da Agra FNP. “Se continuar chovendo no Meio-Oeste americano, áreas de milho podem migrar para a soja. Se isso acontecer, significa pressão sobre os preços da oleaginosa”, adverte.
No final de março, em sua primeira estimativa oficial de intenção de plantio para o ciclo 2009/10, o Departamento de Agricutltura dos EUA (USDA) projetou a área norte-americana de soja em 30,77 milhões de hectares, extensão 0,4% superior à do ano passado (30,64 mi de ha).