Redação (10/09/2008)- O reposicionamento de investimentos globais decorrente das medidas anunciadas no fim de semana pelo governo americano para socorrer as principais agências hipotecárias do país (Fannie Mae e Freddie Mac) aumentou o nervosismo nos mercados agrícolas.
Apesar de os chamados "fundamentos" das principais commodities da área ainda apontarem baixos estoques, riscos climáticos à produção e demanda em elevação no longo prazo, muitos analistas admitem a possibilidade de migração de capitais e novas quedas nos próximos dias, ainda que para um patamar bastante superior às médias históricas. Mas mesmo fortes altas de preços não estão descartadas.
O fato é que, desde que bancos centrais mundo afora começaram a elevar as taxas básicas de juros em resposta às turbulências internacionais, as commodities agrícolas perderam sustentação. Os especialistas mantêm-se cautelosos em relação ao que pode acontecer no curto prazo, mas, ao que tudo indica, as máximas de 2008 já ficaram mesmo para trás.
Na bolsa de Chicago, principal referência mundial para os preços dos grãos, a terça-feira foi tensa e de muitas oscilações. Soja, milho e trigo permaneceram em baixa durante a maior parte da sessão, mas ao fim dela apenas milho e trigo fecharam em queda. A soja, depois de descer ao menor patamar em cinco meses, recuperou-se e fechou em alta.
Impulsionados por notícias climáticas desfavoráveis às lavouras dos EUA, os contratos da soja com vencimento em novembro (que hoje ocupam a segunda posição de entrega na bolsa, normalmente a de maior liquidez) subiram 9 centavos de dólar (0,76%) e encerraram a sessão negociados a US$ 12,0100 o bushel. Com os ganhos, mostra o Valor Data, caiu para 9,29% a queda acumulada dos preços em setembro e para 1,09% a perda em 2008; nos últimos doze meses, a valorização soma 32,67%.
Se o clima no Meio-Oeste americano ajudou a soja, o mesmo não aconteceu com o milho, porque as notícias nessa frente foram favoráveis às plantações. E, também pressionados pela valorização do dólar, os papéis para entrega em dezembro (segunda posição) recuaram 4,50 centavos de dólar, para US$ 5,4450 por bushel – menor patamar em quase um mês. O dólar também tirou suporte do trigo. Em Chicago, os contratos de dezembro (segunda posição) do cereal caíram 13,25 cents, para US$ 7,3050 por bushel. Durante o dia, os preços chegaram a cair ao menor nível em um ano, antes de uma recuperação parcial no fim do dia.
"Ainda que, nesse momento, o dinheiro esteja fugindo e os investidores estejam observando as ações do governo americano, é improvável que as commodities agrícolas percam toda a sua atratividade", afirmou, de Nova York, Vinícius Ito, da Newedge. Ainda assim, não custa notar que o petróleo, principal referência para os fundos de índices que também investem em agrícolas, entrou em parafuso nas últimas semanas.
Ana Laura Menegatti, analista do braço agrícola da MB Associados, acredita que os baixos estoques limitam o espaço para fortes quedas das commodities agrícolas, mas reconhece que o momento é delicado e que em países que estão prestes a plantar a safra 2008/09, como o Brasil, os produtores têm de prestar muito atenção a seus custos, em geral mais elevados que em 2007/08.
"Pelo menos até agora os fundamentos indicam que o plantio não será muito afetado no Brasil", afirma Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja. Ele lembra que "o produtor é um eterno otimista" e vai plantar, e afirma que o risco de problemas climáticos na América do Sul ao longo do desenvolvimento da safra 2008/09 é grande. Na Argentina, por exemplo, uma seca prolongada acaba de reduzir a safra de trigo e o rebanho bovino.