A presidente Dilma Rousseff encerra hoje a primeira etapa de sua visita à China feliz com o anúncio de negócios de centenas de milhões e muitos gestos de boa vontade do governo chinês, mas sem nenhuma manifestação oficial sobre a derrubada de barreiras contra produtos de maior valor agregado exportados pelo Brasil. Dilma reiterou nos discursos com autoridades chinesas a necessidade de ir “além da complementaridade”, com maior abertura para produtos mais elaborados do Brasil.
Entre os muitos gestos de prestígio emitidos pelo governo chinês está o anúncio, feito pelo presidente chinês, Hu Jintao, de que, já em maio, será enviada ao Brasil uma missão comercial “de compras” com empresas chinesas em busca de fornecedores brasileiros. A missão será chefiada pelo ministro do Comércio da China, Chen Demin, que mostrou interesse em ampliar a fatia de manufaturados na pauta de importações de produtos brasileiros pela China.
Ontem, ao oficializar a venda de 35 aeronaves EMB 190 para duas companhias chinesas (dentre essas, dez já haviam sido anunciadas em janeiro, e cinco são opções de compra), o presidente da Embraer, Frederico Curado, divulgou que a chinesa CDB Leasing, que adquiriu os aviões para a companhia Southern China, firmou uma carta de intenções para compra de mais dez aeronaves. Se confirmada a carta, a empresa terá garantido 45 encomendas de clientes chineses.
Os chineses não deram resposta à reivindicação dos produtores de aço brasileiro, que se queixam da recusa em autorizar investimentos no setor siderúrgico chinês. Empresas como a Gerdau tentaram, sem sucesso, produzir em território chinês, mas esbarraram na estratégia da China para o setor, cuja produção representou em 2010 44% do total mundial. “A chave da parceria é a reciprocidade no tratamento dos investimentos, de lado a lado”, cobrou Dilma, em um dos eventos com autoridades chinesas de que participou ontem.
No comunicado conjunto assinado por Dilma e Hu Jintao, os chineses prometeram concluir “de forma expedita” os trâmites burocráticos para autorizar produtores brasileiros a vender gelatina, milho, folha de tabaco da Bahia e de Alagoas, embriões e sêmen de bovinos e frutas cítricas. O Brasil faria o mesmo com pêras, maçãs e frutas cítricas da China.
Coincidentemente, o mesmo termo, “de forma expedita” é usado em outro trecho do mesmo comunicado para fixar o prazo em que o Brasil oficializará o reconhecimento da China como “economia de mercado” (o que cria maior limitação para abertura de ações antidumping com barreiras comerciais contra o país), “nos termos da ação conjunta 2010-2014”. O plano, assinado em maio de 2009, já previa reconhecimento da China como economia de mercado, “de maneira expedita”.
A presidente manifestou interesse de vender automóveis à China. Entre os empresários da missão de quase 250 executivos que acompanharam a visita de Dilma, era grande, porém, o ceticismo em relação à possibilidade de oferecer produtos de maior valor agregado a preços competitivos aos chineses. Além das dificuldades com o câmbio, tributos altos e custos financeiros elevados, alguns setores enfrentam a chamada escalada tarifária, em que quanto maior a sofisticação da mercadoria, maior o imposto de importação.
“Para exportar um bloco bruto de granito não há tarifa, mas o granito polido que empresas querem vender à China recebem 24% de tributação”, explica o diretor de Infraestrutura da Federação das Indústrias de São Paulo, Carlos Cavalcanti. “Não há escalada, há um paredão tarifário”, diz ele, que atribui à China cerca de US$ 30 bilhões dos US$ 72 bilhões que o país compra a mais do que vende em produtos manufaturados, por ano.