Redação (27/02/2009)- A redução dos subsídios agrícolas e o fim da sobretarifa para o etanol importado – medidas propostas pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no discurso da última terça-feira, no Congresso – poderão alavancar os investimentos no setor sucroalcooleiro e impulsionar a produção de álcool em Mato Grosso.
Na opinião do diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado (Sindálcool), Jorge dos Santos, a sinalização do corte dos subsídios para os grandes produtores norte-americanos pode ser positiva para um país agrícola como o Brasil, com impacto direto para Mato Grosso, que seria o mais beneficiado com a medida.
“Dos estados produtores [de álcool], Mato Grosso é o que tem a melhor posição. Já temos mapeados 1,5 milhão de hectares que podem ser incorporadas ao processo produtivo, o suficiente para abastecer 10 novas usinas aqui”, informa Santos.
Atualmente, Mato Grosso cultiva apenas 240 mil hectares de cana-de-açúcar, que na última safra garantiu uma produção de 850 mil litros de álcool. As 11 usinas em operação moeram 15 milhões de toneladas, mas a capacidade de moagem é de até 20 milhões de toneladas de cana por safra.
“Mato Grosso não exporta porque não tem logística para isso. Mas será beneficiado diretamente, pois aumentará suas vendas para os estados que exportam e são nossos clientes. Precisamos de novos investimentos, mas, para isso, é preciso estimularmos as exportações, uma vez que o mercado interno está atendido e as vendas externas não se desenvolveram”, frisou.
Ele entende que outro avanço no discurso de Obama é que, além de ressaltar que o etanol é uma questão de segurança nacional, ele também destaca a importância do produto no combate aos efeitos das mudanças climáticas. Obama também afirmou que irá destinar US$ 15 bilhões por ano para energias renováveis, incluindo biocombustíveis avançados.
Os produtores acreditam que existe a expectativa dos EUA considerarem o etanol brasileiro também como um biocombustível avançado e, desta forma, ser beneficiado por medidas para complementar a demanda norte-americana, que é mandatória e deve ser de 40 bilhões de litros em 2009.
Segundo Jorge dos Santos, nos Estados Unidos, o etanol de milho custa duas vezes mais do que o de cana, por isso está sendo subsidiado pelo governo. “O milho é também o mais importante alimento da humanidade, por isso não se justifica usar um produto desta importância para fabricar combustível, quando existem outras alternativas energéticas”.
Santos lembra que para que o álcool de milho fique competitivo, o produtor norte-americano tem que receber um subsídio fortíssimo. “Além disso, há uma sobretarifa de 54 centavos de dólar por litro de álcool importado, o que acaba tirando a nossa competitividade naquele mercado e praticamente inviabilizando as exportações”.
A retirada desta sobretarifa e dos subsídios aos produtores, na avaliação de Jorge dos Santos, são medidas decisivas para incrementar a produção e atrair novos investimentos para o setor sucroalcooleiro.
“Se considerarmos que o mercado norte-americano é um negócio gigantesco e consumiria toda a produção brasileira, o impacto seria enorme. Acredito que entraríamos em um novo ciclo de produção em nosso Estado”.