Da Redação 09/11/2005 – A jornalista Miriam Leitão fez um comentário, hoje (09/11), sobre a situação do agronegócio brasileiro pós-focos da febre aftosa na edição do jornal Bom Dia Brasil. Ela disse que a aftosa atrapalhou os negócios do Brasil neste setor, mas, mesmo assim, o País segue em crescimento. Confira o comentário.
“O Brasil, potência agrícola, enfrenta uma crise no campo. O caso da febre aftosa é uma tragédia para a nossa perspectiva de exportador de carne no mundo. E a coisa só se complica…
Agora é o Brasil brigando com o Brasil e começa a atingir produtores que nem têm nada a ver com a pecuária. Isso, de fato, só aprofunda o estrago.
O Brasil é o maior produtor de carne bovina, conquistou essa posição suando de sol a sol e vinha subindo a cada ano nos últimos cinco anos. O aparecimento de vários focos no país é um enorme retrocesso.
Antes de ficar brigando no exterior para liberar o mercado, o Brasil tem que fazer o dever de casa. E quem tem que fazer isso são as autoridades federais.
É o governo federal quem tem que coordenar a operação de redução dos danos provocados por essa crise. Mas é redução de danos, porque os prejuízos à exportação e à imagem do produto brasileiro já ocorreram.
Isso para o alívio dos nossos competidores. O Brasil, em cinco anos, superou Argentina, Canadá, Nova Zelândia, Estados Unidos e Austrália. Ou seja, pisou no calo de todo mundo.
A energia do futuro nas mãos do Brasil
O Brasil tem as melhores perspectivas na área da agricultura. Hoje, ninguém tem dúvidas disso no mundo. A última edição da revista inglesa “The economist” tem como uma das reportagens de capa sobre a agricultura brasileira, com título que já diz tudo: “Brasil: a superpotência agrícola”.
Começa dizendo que se Deus é brasileiro, sua cidade natal é Petrolina, porque lá o sol persistente, fertilidade do solo e a baixa umidade são uma barreira natural contra doenças. Ou seja, o que por tanto tempo foi visto como o ponto fraco do Nordeste, Petrolina descobriu, também há muito tempo, que são vantagens o ar seco e o sol inclemente. Isso mata uma série de pragas.
Mas, na verdade, se Deus é brasileiro, ele, onipresente, nasceu em vários pontos do país ao mesmo tempo, porque há vantagens específicas em todo o Brasil que são utilizadas pelos produtores brasileiros.
No caso de biodiesel, o Brasil tem que parar de acreditar apenas na sua força natural e ter uma estratégia para se firmar como o maior produtor. O biodiesel é, de fato, uma oportunidade para crescer pela pressão de redução da poluição, que, ainda bem, é uma tendência inevitável no mundo.
Mas o mercado não aceitará biodiesel que for produzido de forma que agrida o meio ambiente. A qualidade de vida do trabalhador é outra exigência que um produtor moderno tem que seguir. As sanidades animal e vegetal têm que ser uma obsessão.
Somos grandes por natureza, mas não podemos errar mais. Outros países recebem enormes subsídios. Isso, o produtor brasileiro pode esquecer, porque o país não pode, nem quer, pagar essa conta.
Brasil: avanço ou não?
Nas agências internacionais que dão classificação de risco para o Brasil, houve uma mudança ontem: o Brasil melhorou. Na considerada a maior agência classificadora de risco, a Standard & Poors, o Brasil passou para a perspectiva positiva. Mas, na verdade, não saiu do lugar. Foi uma mudança. O país era negativo, depois foi para neutro e agora é positivo. É uma mudança apenas de sinal, muito pequena.
O atraso dos pareceres dessas agências sobre o Brasil virou um mistério. Ontem, Otaviano Canuto, um economista brasileiro que trabalha no Banco Mundial, disse que o Brasil hoje, em determinados indicadores da área externa, por exemplo, está com indicadores tão bons ou melhores do que outros países. Mas o Brasil está lá atrás. Está atrás do Peru e da Colômbia.
Essas classificações definem o tamanho dos juros que o país ou as empresas do país pagam nos seus empréstimos internacionais. O argumento dessas agências é que o Brasil tem uma dívida muito grande. A Standard & Poors faz um cálculo de dívida bruta, que ninguém faz: o FMI não faz, nem o Banco Mundial. E essa dívida bruta é 85% do PIB, quando na dívida líquida é 50%”.