Pouco mais de 45 dias após o embargo russo a nove frigoríficos brasileiros de carne bovina – no dia 2 de outubro -, a Rússia autorizou mais empresas a exportar carne do que bloqueou.
De um total de 56 estabelecimentos exportadores brasileiros de carne bovina registrados no serviço sanitário russo (Rosselkhoznadzor), 12 foram aprovados para exportar após o dia 2 de outubro. Com isso, hoje, 21 das 56 plantas têm autorização para exportar, uma está em controle reforçado e 34 estão proibidas de vender para a Rússia.
“A capacidade de abate hoje é maior que a de outubro, até porque os russos abriram unidades estratégicas em Mato Grosso”, assegurou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), Antônio Camardelli. Ele não detalhou qual é a capacidade de abate dos frigoríficos autorizados a exportar para a Rússia.
De certa forma, as autorizações dadas pelos russos desde o embargo iniciado em 2 de outubro contemplam uma estratégia do Ministério da Agricultura. No mês passado, o ministro Antônio Andrade afirmou que ofereceu, durante as negociações com os russos, “trocar” os frigoríficos suspensos pela habilitação de outras unidades do país. Assim, a Rússia vetaria as unidades que avalia não cumprir as exigências sanitárias, mas liberaria a exportação de outras plantas. Foi o que ocorreu. “Saudamos essa troca de garantia entre governos”, disse Camardelli.
No acumulado do ano até outubro, o Brasil exportou 266 mil toneladas de carne bovina para a Rússia, crescimento de 15,6% na comparação com as 230 mil toneladas embarcadas no ano anterior. A receita com esses embarques chegou a US$ 1,046 bilhão. Em outubro, os frigoríficos brasileiros mantiveram o nível médio de exportação mensal para a Rússia em 25 mil toneladas. Em receita, as vendas externas para a Rússia chegaram a US$ 102,4 milhões.
Apesar de “saudar” a liberação feita pelos russos, Camardelli reafirmou sua preocupação com o já polêmico caso dos betagonistas, promotores de crescimento de bovinos cujo uso está suspenso no Brasil desde o fim do ano passado. O uso de betagonistas na alimentação do gado bovino chegou a ser liberado no Brasil em meados de 2012, mas enfrentou forte resistência da União Europeia e foi posteriormente suspenso.
Ocorre que ainda há uma disputa entre as empresa veterinárias que produzem os betagonistas – ractopamina e cloridrato de zilpaterol – e os frigoríficos exportadores. De um lado, as veterinárias tentar aprovar um plano de segregação junto ao Ministério da Agricultura que assegure que o gado bovino abatido destinado à Europa e também à Rússia não foi tratado com os betagonistas.
De outro, está a Abiec, que só concorda com protocolo de segregação caso ele seja validado pelos europeus. Segundo Camardelli, os mercados que vetam os betagonistas representam 45% da exportação nacional de carne bovina.
“Não temos indicativo de que o governo vai liberar os betagonistas, mas ficamos preocupados, porque o produto não teve o registro cancelado”, disse Camardelli. Apesar disso, ele afirmou confiar no documento que o então secretário de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura, Enio Marques, enviou aos europeus, garantindo que o Brasil só autorizaria a venda de betagonista após os europeus aprovarem o protocolo de segregação. “O que existe de fato é esse documento”. Com essa garantia, Camardelli espera manter o bom momento da historicamente conturbada relação com os russos.
Ao contrário do que acontece no comércio de carne bovina, a relação entre Rússia e Brasil continua tensa no setor de carne suína. Hoje, apenas três estabelecimentos de um total de 21 estão autorizados a exportar sem restrições. Na segunda-feira, uma planta da BRF em Rio Verde (GO) foi posta em “controle reforçado”, conforme o serviço sanitário russo.
Apesar disso, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Rui Vargas, considera que esses movimentos são normais. “O controle reforçado não é um embargo em si, mas a situação não nos surpreende”. Segundo ele, a Rússia responde hoje por 22% do total exportado pelo Brasil. Esse valor já foi de 62% em 2005. A Rússia é a maior compradora do produto brasileiro.
“No mês que vem, uma missão russa vem ao Brasil visitar alguns frigoríficos e pode ser que tenhamos boas notícias. Por enquanto, a tendência é se manter nesse percentual, que consideramos normal”, disse.