A decisão do governo russo de reabrir a negociação do acordo de carnes com o Brasil e com outros exportadores foi vista com surpresa pelo setor produtivo. O país toma a medida às vésperas da negociação final para sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC). Até o momento, a retomada das discussões não foi confirmada pelo governo brasileiro.
“A conclusão do acordo deve ser assinada no próximo dia 15 de dezembro, o capítulo das carnes está praticamente encerrado”, afirmou Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Segundo o dirigente, não deve haver alteração na cota definida para a carne suína, considerando que falta muito pouco para a conclusão do acordo “Mesmo que haja alguma mudança no acordo previsto para as outras carnes, não deve ser nada muito grande”, avalia o presidente da Abipecs.
A Rússia irá rever o acordo das carnes por pressão dos Estados Unidos, que estão aproveitando o câmbio para ampliar o mercado exportador. Os norte-americanos querem reaver a cota estabelecida com o mercado russo.
“A cota dos EUA é diferente daquela determinada para o Brasil, por isso, não acredito que sejamos atingidos com as mudanças”, afirma Antenor Nogueira, presidente do Fórum de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo Nogueira, os russos buscam mercados pelo preço e a carne norte-americana é mais cara, porque os EUA atendem mercados seletos, como o Japão e Coréia, que preferem cortes especiais e pagam mais por isso.
Uma das mudanças previstas no acordo já acertado com o Brasil é o estabelecimento de uma cota para carnes especiais, a exemplo da Cota Hilton, determinada pela União Européia. “Uma cota para cortes especiais pode ser positivo para o Brasil”, destaca Nogueira. “A Rússia é importadora de cortes dianteiros, de menor valor, e a possibilidade de vender produtos com valor agregado representa uma oportunidade para o exportador brasileiro”, salientou.
O que prevê o acordo – As negociações do mercado de carne entre o Brasil e a Rússia fazem parte da busca por apoio do governo brasileiro à entrada de Moscou na Organização Mundial do Comércio (OMC). O acordo previa a redução das tensões na relação comercial entre os dois países e o fim do embargo temporário imposto pela Rússia aos frigoríficos brasileiros.
A oferta deve vigorar a partir do momento em que a Rússia se tornar membro da OMC. Os volumes definidos valerão até 2020, quando o sistema de cotas será substituído apenas por tarifas.
As condições atuais estabelecem as seguintes cotas para a importação de carne:
Carne bovina
Outros Países ( Brasil incluído) – 410 mil toneladas
EUA e UE – 60 mil toneladas para cada
Tarifa extra cota 55%
Carne Suína
Cota global – 400 mil toneladas
Tarifa intra cota 15%
Tarifa extra cota 70%
Frango
Cota global – 250 mil toneladas
Tarifa Intra cota 25%
Tarifa extra cota 80%
Peru
Cota global – 60 mil toneladas
Tarifa Intra cota 25%
Tarifa extra cota 80%