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Rússia reluta em importar suíno de SC

O que vinha sendo tratado como um simples desencontro de agendas, passou a ser considerado, no Brasil, uma falta de disposição da Rússia em receber uma missão veterinária brasileira para tratar do tema.

Redação SI 18/02/2003 – A retomada das vendas de carne suína de Santa Catarina para a Rússia – proibidas desde 24 de dezembro de 2002 – pode estar ainda distante. O que vinha sendo tratado como um simples desencontro de agendas, passou a ser considerado, no Brasil, uma falta de disposição da Rússia em receber uma missão veterinária brasileira para tratar do tema.

As exportações catarinenses estão proibidas porque os russos alegam risco de contaminação com o mal de Aujeszky após a ocorrência de casos no Estado. A doença, provocada por um vírus inofensivo ao homem, leva fêmeas ao aborto, agrava problemas respiratórios e causa encefalite nos leitões.

Há a suspeita de que a barreira tenha motivações políticas ou comerciais, segundo as informações do jornal Valor Online. O próprio ministro das Relações Exteriores, Celso Amorin, tratou do tema ontem, em encontro com seu colega russo, Igor Ivanov, em Moscou.

Em reunião na quinta-feira com veterinários russos, a encarregada de negócios da embaixada brasileira na Rússia, Kátia Gilaberti, ouviu que “as autoridades russas não aceitam receber a missão brasileira antes do envio de ”respostas concretas às preocupações russas””.

Segundo relatório enviado por Gilaberti à Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, além de reiteirarem queixas em relação à doença de Aujeszky, os russos alegaram falta de informação sobre a situação da aftosa no Norte do Brasil e mostraram preocupação com o sistema de certificação sanitária do país. Ela saiu da reunião temendo novas restrições russas.

Os veterinários voltaram a afirmar que o Brasil “deveria ter suspendido as exportações para a Rússia ao tomar conhecimento da existência de Aujeszky no território nacional”. Ao continuar exportando, alegam, o Brasil teria “descumprido as condições do certificado sanitário negociado bilateralmente”, diz o relatório ao qual o Valor teve acesso.

Na reunião, que correu em clima tenso, segundo Gilaberti, os russos disseram que a documentação brasileira sobre Aujeszky era “pouco específica”. Mas, na mesma reunião, reconheceram que as informações eram completas. Eles enfatizaram, porém, a preocupação com a aftosa e o risco enfrentado pela Rússia que “segue importando carne do Sul, sem saber o que acontece em outros Estados”.

Para João Cavallero, diretor de Defesa Animal do Ministério da Agricultura, as alegações russas têm motivação comercial. “Já enviamos a eles documentos com as respostas sobre Aujeszky e a situação da aftosa no Brasil, onde há 17 meses não ocorre foco”. Cláudio Martins, diretor da Abipecs (entidade que reúne os exportadores), diz que a trava russa tem origem no crescimento das vendas brasileiras de carne suína para o país.

Concorda com ele um diplomata que participa das negociações com a Rússia, que acredita haver um esforço do governo para proteger a produção local de suínos. Com essa mesma justificativa, os russos impuseram cotas para importação de carnes. Ele relata, ainda, que União Européia e EUA, ambos exportadores, pressionam para que a Rússia restrinja a carne suína brasileira.

O diplomata não descarta uma relação entre o embargo à carne brasileira e a taxa antidumping de 32,1% sobre o nitrato de amônio da Rússia, imposta em 2002. A medida está sendo revista, e os diplomatas brasileiros devem recomendar à Camex a retirada do processo antidumping.

Além disso, os russos querem o apoio do Brasil para entrar na Organização Mundial de Comércio (OMC). O diplomata lembra que, no primeiro semestre de 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente russo, Vladimir Putin, assinaram declaração em que a Rússia apoiava o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Em contrapartida, o Brasil apoiava a Rússia na OMC. Mas o Brasil continuou a tratar o país como não sendo uma economia de mercado, condição para o ingresso na OMC.