O Rosselkhoznadzor, serviço sanitário russo, já avisou ao governo brasileiro que a quantidade de frigoríficos habilitados a exportar carnes para o país deverá diminuir. A entidade considera “problemática” a expansão da lista de permissão destas empresas sem que elas apresentem maiores garantias de melhoria do serviço veterinário brasileiro.
A conversa entre o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Ênio Marques, e o chefe do Serviço Veterinário russo, Sergey Dankvert, aconteceu na Argentina e na segunda-feira passada.
Durante a reunião, a Rússia se propôs a fazer a próxima visita técnica ao Brasil no mês de maio, nos Estados do Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Goiás. No entanto, o Ministério da Agricultura nega que alguma data tenha sido acertada e que este encontro só será marcado depois da realização de uma teleconferência entre os serviços sanitários de cada país, com a participação de representantes dos Estados brasileiros.
Com o entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC), as exigências de qualidade em relação ao serviço sanitário brasileiro serão maiores, alertou Dankvert. No entanto, a análise do secretário russo vai na contramão do discurso brasileiro de que as exigências sanitárias diminuiriam e o embargo do produto nacional estaria próximo ao fim.
Dankvert abriu a reunião mostrando um levantamento da quantidade de produtos de origem animal e vegetal exportados para Moscou. Em 2011, foram 227 mil toneladas de carne bovina, 134 mil toneladas de suína, 70 toneladas de carne de aves e 302 mil toneladas de soja.
Além do possível corte no número de frigoríficos, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, mostrou preocupação com a troca do Ministério da Agricultura da Rússia, prevista para o dia 7 de maio. Segundo ele, a atual ministra Elena Skrynnik, é mais favorável às negociações. “Por isso, preferia que ela se mantivesse no cargo para continuar as negociações com ela. Mas vamos seguir em frente e com bom senso”, disse.
Um levantamento do Ministério da Agricultura brasileiro mostra que das 139 plantas cadastradas junto ao serviço sanitário russo, oito estão aptas a exportar, 40 delas se mantêm em controle reforçado (quando as cargas passam por mais exames que o comum), e 91 com restrições embargadas. Os frigoríficos que comercializam carne suína são os mais afetado pelo bloqueio. Apenas dois, um do Estado de Goiás e outro de Minas Gerais, receberam autorização, dois estão em controle reforçado e 17 foram embargados.
Em vigor desde junho de 2011, o embargo russo às carnes brasileiras está cercado de intrigas baseadas em erros administrativos, documentos mal traduzidos e promessas não cumpridas. Pouco depois do início deste bloqueio, uma comitiva brasileira esteve em Moscou e apresentou uma lista de embargos voluntários a 37 unidades. Em contrapartida, havia a expectativa de que outras plantas pudessem ser liberadas.
A Rússia enviou uma missão técnica para averiguação e criticou a falta de sanidade segundo os padrões do país. Desde então, o ministério insiste no antigo discurso de que “os russos ainda não disseram qual é o problema fitossanitário com os produtos nacionais”.
Mendes Ribeiro já foi à Rússia e se reuniu algumas vezes com representantes do serviço sanitário. Porém, não existem sinalizações de melhora para este impasse que já dura nove meses.