Maior Estado produtor de grãos do País na safra 2009/10, o Paraná deverá perder novamente o posto para Mato Grosso neste ciclo 2010/11, que está em fase de plantio. Isso não significa, entretanto, que a vida dos agricultores paranaenses vai piorar. Ao contrário. Se o clima não comprometer demais as lavouras – e há esse risco, por causa do fenômeno La Niña -, a maior parte deles terá rentabilidade maior que na temporada passada, em razão da queda de custos e dos melhores preços sobretudo de soja e milho.
“Os produtores estão animados com as duas grandes culturas de verão, e esse otimismo está diretamente relacionado aos preços”, diz Flávio Turra, analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar).
No mercado de milho, os R$ 13 ou R$ 14 por saca de parte do primeiro semestre, que levaram o governo federal a apoiar o escoamento da produção, agora se tornaram cerca de R$ 20. E como a tendência de escassez hídrica do La Niña alimenta incertezas, os produtores creem que as cotações poderão subir mais. A colheita ganha ritmo no Paraná em fevereiro, e as vendas antecipadas estão paradas muito por conta disso.
A Ocepar é um bom termômetro para medir o ânimo dos agricultores do Paraná porque reúne 82 cooperativas agropecuárias, responsáveis por mais da metade da produção de soja e milho no Estado. Na soja, o percentual chega a 72%; no milho, atinge 52%. Estimativas da entidade apontam que os associados estão plantando uma área de soja 4,5% maior em 2010/11, enquanto a safra de milho de verão terá área 15% menor. É mais ou menos o movimento captado pela Conab para o Paraná como um todo, apesar das pequenas diferenças nos percentuais.
Se o La Niña permitir, prevê a Conab, a produção estadual total de soja deverá atingir até 14,067 milhões de toneladas, mesmo volume de 2009/10 – quando o clima foi quase perfeito -, e a safra de verão de milho deverá render até 5,544 milhões de toneladas, queda de 20%, determinada pelos baixos preços entre janeiro e julho. Se somada a safrinha de inverno de milho, ainda passível de todas as incertezas, o Paraná poderá colher 11,239 milhões de toneladas de milho no total, baixa superior a 16%. A produção paranaense de grãos como um todo deverá chegar a praticamente 30 milhões de toneladas em 2010/11, ante 31,4 milhões em 2009/10. Em Mato Grosso, serão, agora, 32 milhões.
Apesar de boa parte da produção deste ano ter sido comercializada com preços abaixo dos níveis observados a partir de julho, quando soja e milho voltaram a disparar nos mercados internacional e doméstico, o grande volume colhido colaborará para que o faturamento conjunto das cooperativas do Paraná alcance R$ 28,5 bilhões em 2010, 15% mais que em 2009. Mesmo com o dólar fraco, as exportações deverão representar US$ 1,7 bilhão do faturamento neste ano, ante US$ 1,5 bilhão em 2009, conforme Turra. “Só para se ter uma ideia”, diz ele, “em 1970 o faturamento foi de R$ 22 milhões, em valores corrigidos”.
Como já informou o Valor, os investimentos das cooperativas, por sua vez, deverão chegar a R$ 1 bilhão em 2010, aplicados principalmente nas áreas de carnes de frango e suína e em armazenagem. Em 2009, foram R$ 1,2 bilhão. “A queda se explica pela crise financeira global. Cerca de 50% dos investimentos deste ano foram em agroindustrialização, incluindo os segmento de carnes. A armazenagem deverá representar 35%”, afirma Turra. Hoje, a capacidade de armazenagem das cooperativas paranaenses é de 14,5 milhões de toneladas; em todo o Estado, é de 25 milhões de toneladas.