A presidente Dilma Rousseff disse ontem, em Nova York, que não dá para sair da crise “produzindo recessão” e que não “é possível mais dar respostas antigas e ultrapassadas” para problemas novos. A afirmação foi feita durante entrevista de 35 minutos, concedida no último dia de visita aos Estados Unidos. Na quarta-feira, a presidente discursou na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Dilma voltou a cobrar medidas dos países ricos para conter a crise e disse que o Brasil deve participar das discussões para encontrar soluções para as turbulências, mas sem participar das operações de socorro financeiro.
” Não acredito, de maneira alguma, que se saia da crise produzindo recessão. Acho que não se sai, até porque vi, recentemente, uma declaração do Fundo Monetário Internacional, que dizia que o risco na economia internacional é de uma espiral recessiva”, disse a presidente. ” Quando você reduz o crescimento, você reduz a capacidade da economia pagar suas dívidas. Você aumenta a dívida, aumenta o déficit e exige mais recessão. Essa é a típica espiral recessiva em que está imersa a Grécia”, afirmou a presidente.
Sobre a participação do país na solução da crise global, Dilma disse que é importante, nesse momento, participar do diagnóstico da situação. “Nós estamos prontos a participar do diagnóstico. Nós estamos prontos também a dar a nossa contribuição, desde que ela seja uma contribuição que faça parte de um processo de solução do problema macroeconômico”, disse.
A presidente buscou, entretanto, deixar claro também que “o governo brasileiro não acha que nós solucionaremos o problema europeu colocando dinheiro das nossas reservas no Fundo de Estabilização, porque não é esse o problema. Nós não achamos que a questão é falta de dinheiro. Achamos que a questão é falta de recursos políticos, como disse no meu discurso. Não de recursos financeiros.”
“Agora, acredito que vai ser necessário desvalorizar as dívidas existentes”, afirmou a presidente. “O Brasil está numa situação tranquila, nós não podemos ficar pregando receituários para o mundo, nós queremos é participar, assumir nossas responsabilidades.”
Durante a entrevista, Dilma também falou sobre a posição brasileira em relação à guerra cambial. Segunda ela, “a guerra cambial se dá, e se dará” enquanto não houver uma articulação macroeconômica, que faça com que as medidas econômicas tomadas por um país levem em conta o impacto delas sobre os vizinhos.
Segundo Dilma, mesmo entendendo a importância da expansão da política monetária e da política de juro zero para alguns países, esse fato cria uma competitividade indevida para as economias desses países “porque cria uma valorização das moedas dos países, que não fizeram isso, extremamente adversa”.
Para a presidente, “temos uma valorização do real que não é uma valorização sistêmica, mas é operada por fatores que não são aqueles baseados no mercado, mas sim baseados na política. Enquanto houver esse tipo de conduta, você estará em um processo de guerra fiscal”.
Sobre a reação brasileira à atual volatilidade dos mercados, afirmou que ” a nossa atitude é de calma, tranquilidade e de estabilizar todo o processo. Tanto o ministro Tombini, como o ministro Guido, estão tomando as providências cabíveis. Não estamos tomando ainda nenhuma medida unusual. São as mesmas medidas de sempre: os swaps e, eventualmente, também ainda não compramos dólares, assim, em quantidade, porque não há problema no mercado spot, e acredito que as coisas vão se ajustar.”
Segundo a presidente, o país está “completamente pronto” e monitora a economia interna e a internacional diariamente. Mas fez questão de ressaltar que ” não somos responsáveis pela crise”. Mas também, segundo Dilma, não é possível dizer que o país não sofra as consequências indiretas da crise. “Sofremos. Primeiro, porque o mercado internacional se reduz, na medida em que as economias desenvolvidas diminuem o tamanho de seus mercados, na medida em que há desemprego, na medida em que há contração da demanda.
Para a presidente brasileira, é ” é importantíssimo que a prioridade seja dada para a solução da crise soberana, que se constitua um processo de resgate ordenado da Grécia, que se delimite os efeitos e as consequências da situação grega, impedindo que ela afete outras economias e, portanto, a partir daí, que ela tenha efeito de afetar outras mais ainda.”