O efeito da estiagem no Sul do Brasil, na Argentina e no Uruguai, causada pelo fenômeno climático La Niña, provocou uma rápida disparada nos preços dos grãos, sendo o principal fator de aceleração do Índice de Preços Geral – Mercado (IGP-M) entre dezembro e janeiro, concordam economistas ouvidos pelo Valor. O IGP-M, que havia recuado 0,12% em dezembro, subiu 0,25% neste mês, puxado pelo aumento de 1,10% no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) agropecuário.
Pelos cálculos da Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pela apuração do IGP-M, metade da inflação de janeiro foi derivada de duas commodities: milho e soja, que tiveram elevação de 5,21% e 3,37%, respectivamente. Em dezembro, os preços agrícolas haviam caído 0,82%, com o milho recuando 7,04% e a soja baixando 3,53%.
“A disparada neste mês se deve a um choque de oferta”, afirma o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros. “As duas principais commodities agrícolas brasileiras estão com risco de perda expressiva de safra devido à seca.”
O salto nos produtos agrícolas foi compensado pelos produtos industriais, que caíram 0,49%. A expectativa é que, à medida que a oferta desses grãos se normalize, o IPA agropecuário tenha uma leve descompressão, afirma Thiago Curado, da Tendências Consultoria, para quem a influência sobre esses preços é exclusivamente interna.
Esse movimento, entretanto, não deverá ocorrer antes de fevereiro, na avaliação de Fabio Romão, da LCA Consultores. Pelos cálculos dele, os preços agropecuários deverão fechar janeiro com alta ao redor de 1%.
“A seca no Sul explica uma parte dessa subida, mas não é o principal fator. Os preços da soja e do milho estão sendo pautados pelo comportamento lá fora”, observa Daniel Lima, da Rosenberg Associados, que aposta em preços pressionados também em fevereiro, apesar da volatilidade provocada pela crise no exterior. Segundo ele, as commodities agrícolas aumentaram 1% em reais na média de janeiro contra dezembro, mas na comparação em dólar, a alta foi de 3%.
Com a expectativa de desaceleração nos preços no varejo e na construção, a FGV não espera que a inflação se intensifique no próximo mês, ao contrário do que preveem os economistas. Mesmo com alguma folga dos produtos agropecuários, a estimativa é que, à medida que saia o impacto da mudança do modelo de reajuste trimestral da Vale nos preços do minério de ferro, a deflação nos preços industriais perca fôlego e pressione os IGPs. Na atual leitura do IGP-M, o minério de ferro caiu 5,44%, depois de recuo de 6,96% em dezembro.
Para o IGP-M de fevereiro, as projeções dos economistas variam de 0,35% a 0,45%, enquanto a FGV espera alta em torno de 0,25%.