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Insumos

Sem alívio no campo

Produtores não aceleram a compra dos insumos necessários para a formação das lavouras, apesar de alta na cotação da soja.

Sem alívio no campo

A valorização da soja no mercado internacional em julho, a menos de dois meses do início do plantio da nova safra no Centro-Oeste, não foi suficiente para animar os produtores a acelerar a compra dos insumos necessários para a formação das lavouras. Num ciclo em que as margens de lucro devem ser menores, qualquer alta de preço seria, em tese, aproveitada para melhorar as relações de troca. A desvalorização do dólar ante o real, contudo, não melhorou as contas do agricultor e as transações envolvendo fertilizantes, defensivos e outros produtos seguem a passos lentos, segundo algumas cooperativas da região.

O câmbio abaixo de R$ 1,80 é reclamação generalizada. Enquanto na Bolsa de Chicago o contrato março – referência para a safra brasileira – acumula ganho de 6,74% nos últimos 12 meses, o dólar registra perdas na mesma medida: 6,78% no período avaliado, ambos com base no fechamento do dia 20.

“Houve redução no preço de venda em reais e em dólar, então o produtor não está muito animado. Ele olha o mercado todo dia e vai fechando os pacotes de troca aos poucos”, afirmou Hélvio Alberto Fiedler, diretor executivo da Cooperativa Agroindustrial do Centro-Oeste do Brasil (Coabra), que centraliza a compra de insumos para várias cooperativas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ele não cita números, mas, em Mato Grosso, maior produtor de soja do País, estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) indica que 60% dos produtores compraram os insumos necessários à safra. Já a comercialização da soja chegou a 10%, de acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

De acordo com Maria Amélia Tirloni, analista do Imea, fora das trocas por insumos, a soja para entrega em 2011 tem sido vendida a preços entre US$ 15 e US$ 16 a saca em Mato Grosso, dependendo da região.

Em seu mais recente relatório semanal, a consultoria mineira Céleres comentou que os produtores “aguardam por melhores momentos de preços para realizar as vendas ou trocar o produto por fertilizantes e defensivos que serão utilizados na safra 10/11”.

A cautela se justifica. Estimativa da Agroconsult indica que, em 10/11, os custos, mas também as margens de lucro, serão mais baixos por causa da queda dos preços. Na soja, por exemplo, o custo de produção deve recuar entre 5% e 6%, dependendo da região do País. Mas a margem de lucro deve ceder entre 18% e 40%. No milho, a redução dos ganhos deve chegar a 12%.

Hélvio Fiedler, da Coabra, ressalta que o produtor ainda tem tempo para decidir. “A decisão pode ser tomada até agosto, até lá dá tempo de olhar o mercado”. No Centro-Oeste, o plantio da soja começa após o período de vazio sanitário, em 15 de setembro, mas a maior parte das lavouras começa a ser semeada de outubro para frente.

Na Cooperativa Agrícola dos Produtores da Região Sul de Mato Grosso (Coaleste), de Primavera do Leste, cerca de 60% dos produtores garantiram os insumos para o plantio, nível um pouco inferior ao registrado na mesma época do ano passado. “O restante está à espera de preços mais adequados”, disse Paulo Corte, gerente comercial da cooperativa. Quanto à venda da safra futura, os negócios têm girado em torno de US$ 16,50 na região, para entrega em fevereiro de 2011, um valor que, em reais, pode não fechar, segundo ele.

TRADINGS – Estimativa do Imea mostra que as multinacionais de fertilizantes e grãos deverão financiar apenas 25% do custeio da safra de soja no Estado em 10/11, ante 35% no ciclo passado. Parte dos recursos que deixarão de ser fornecidos pelas chamadas tradings será compensado pelo aumento, de 14% para 20%, no financiamento proporcionado pelas revendas de insumos. O Imea calcula que o custeio do plantio da próxima safra chegará a R$ 6 bilhões.

Outros 37% das necessidades de custeio virão do bolso do próprio produtor, ante 34% na safra passada. Os bancos federais continuarão com parcela de 6% e o sistema financeiro passará de 11% para 12%.

Para a analista Maria Amélia Tirloni, do Imea, essa alteração na estrutura de financiamento mostra que as multinacionais estão dividindo o risco da concessão de crédito ao produtor rural com as revendas.

Na avaliação de Glauber Silveira da Silva, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), as tradings estão financiando o produtor via revendas, especialmente nas áreas ao longo da rodovia BR-163, que concentram grande parte da produção do Estado. Ele não identifica grandes mudanças nas condições oferecidas entre uma e outra e não vê dificuldade maior do produtor em obter os recursos para o custeio. “As condições são bem parecidas”, disse.