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Economia

Sem investimento, competitividade do agronegócio pode cair

O investimento estrangeiro direto pode ser a alavanca que recolocará o agronegócio na rota desejada de longo prazo.

Sem investimento, competitividade do agronegócio pode cair

O investimento estrangeiro direto pode ser a alavanca que recolocará o agronegócio na rota desejada de longo prazo
Atribui-se papel fundamental ao agronegócio brasileiro diante das perspectivas de longo prazo de crescimento mundial da demanda por alimentos, fibras e energia. Dele depende, em boa parte, o suprimento mundial a preços acessíveis à população mais pobre.
Em 2050, em relação ao ano 2000, segundo projeta a FAO, o mundo terá população 33% maior, o consumo de alimentos ficará 70% maior, com o de cereais aumentando 43% e o de carnes, 74%.
No esforço para atender essas demandas, as lavouras, em escala mundial, vão contar apenas com mais 5% de terras aráveis (70 milhões de hectares, concentrados na América Latina e África). Com isso, 90% do crescimento deverá vir da intensificação dos investimentos em capital físico e na geração de inovações tecnológicas.
A FAO tem trabalhado com taxa média de aumento do agronegócio brasileiro em torno de 3,5% ao ano, maior do que a média que tem sido observada (2,9%). Acumulada para os próximos 40 anos, a diferença leva a uma produção 35% menor do que a esperada pela FAO para 2050.
Em recente pesquisa, Cassiano Bragagnolo, doutorando da Esalq/USP, apresenta evidências de que os fatores que explicam o crescimento agropecuário no Brasil foram se alterando ao longo do tempo.

Na década de 1970, foram os investimentos em capital físico e a ampliação da área utilizada que asseguraram o crescimento do setor; a produtividade, no entanto, teve pequena contração.
De 1980 a 2000, a produtividade passou a atuar positivamente para o crescimento, enquanto a lenta expansão do investimento e da área prejudicou o crescimento.
Já nos anos 2000, como a produtividade se estabilizou, o investimento e a área voltaram a ser determinantes para o crescimento e, felizmente, vêm ensaiando uma recuperação, mas não suficiente para garantir a desejada taxa de expansão do agronegócio.
Se não for recuperado o avanço da produtividade, o Brasil estará sacrificando sua competitividade, posto que é o aumento da produtividade que tem mantido os custos abaixo daqueles de seus concorrentes.
Ademais, investimentos abaixo do necessário fazem com que boa parte das máquinas, equipamentos e benfeitorias encontre-se depreciada ou obsoleta, o que também leva a perda de eficiência.
Sob tais condições, o crescimento depende da expansão da área, o que torna mais relevantes as sérias deficiências logísticas do país.
Apesar de possuir terra disponível, sua utilização eficiente não prescinde de investimentos em capital físico e em inovações tecnológicas.
Quanto ao investimento na produção agropecuária, tudo indica que, ao longo dos últimos 30 anos -devido aos profundos cortes no crédito rural- o setor não tem contado com os recursos necessários.
Dada a insuficiência de recursos próprios, o investimento estrangeiro direto pode representar a alavanca que recolocará o agronegócio na rota desejada de longo prazo.

Geraldo Barros é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.