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Economia

Sem milho, suinocultor do Mato Grosso pode quebrar

Suinocultores de MT podem ficar sem milho para o restante deste ano, devido à quebra de safra no estado e às fortes comercializações do cereal. Pequenos e médios criadores serão os mais prejudicados. Demissões são iminentes.

Os suinocultores de Mato Grosso podem ficar sem milho para o restante deste ano, devido à quebra de safra no estado e às fortes comercializações do cereal. Com isso, os produtores que já estão descapitalizados anunciaram que caso a situação não melhore, os pequenos e médios criadores podem quebrar em 60 dias. Para piorar a situação, a estratégia das propriedades maiores será o abate de matrizes, que será acompanhada de demissões.

Após o anúncio do embargo russo às carnes brasileiras, que provocou uma queda de 80% nas exportações do mês de julho aos suinocultores do Mato Grosso, os prejuízos podem ficar ainda maiores. Isso porque o estoque de milho do estado pode não ser suficiente para alimentar as cadeias produtivas de carnes no período de entressafra. Por conta de problemas climáticos que atrasaram o plantio, a safrinha de milho deve fechar em 6,7 milhões de toneladas, queda de 20% ante 2010.

Com essa quebra na produção, a região que consome aproximadamente 2,5 milhões de toneladas do cereal por ano, pode ficar sem estoques.

Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), do total a ser colhido quase 70% já foi comercializado, ou seja, os estoques não devem ultrapassar a casa dos 1,2 milhão de toneladas. “Apesar de o Mato Grosso ser um dos maiores produtores de milho, o cereal não fica no estado, por conta da alta demanda de abastecimento do grão pelo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que concentram os maiores rebanhos de aves e suínos”, disse o diretor executivo da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Custódio Rodrigues.

O executivo explicou que o embargo descapitalizou os produtores do estado que, por sua vez, não têm possibilidades de estocar milho para um período maior. “A cadeia está passando por um momento muito difícil. Desde o começo do ano já vimos preços de até R$ 1,3 o quilo do suíno vivo, com custo de produção de até R$ 2,2”, confirmou ele.

Para o médio produtor da Granja Pig, da região de Sorriso, Jackson Dulnik, a preocupação é uma realidade, pois o seu estoque é suficiente para alimentar os suínos por apenas 90 dias. “Não tenho como comprar e estocar mais milho agora, tenho que esperar a realização de algumas vendas de carne para correr para as compras. O meu medo é não encontrar milho depois, pois o governo federal está comercializando tudo com outros estados”, afirmou ele.

“Precisamos com urgência que o governo interceda para que haja uma retenção da produção de milho dentro do Estado. Não aguentaremos mais este aumento nos nossos custos que já estão inviáveis, hoje estamos amargando prejuízos e empatando custo e venda”, contou o presidente da Acrismat Paulo Lucion, ao emendar que o “quebra-quebra” deve começar em breve.

O executivo frisou que a falta de apoio ao estado limitará a saúde das propriedades de menor porte há no máximo dois meses, dado a falta de renda para enfrentar custos altos e preços de venda baixos. “Se a situação não mudar terei que abater matrizes para reduzir o número do plantel. E assim muitos irão fazer. Se eu tiver que abater 30 matrizes, terei também que dispensar um funcionário, para manter a saúde da fazenda”.

Para a analista do Imea, Camilla Birenbaum Nobile, o alto volume de exportações do estado irá afetar o consumo da região. “Como é possível verificar, o impacto para as exportações desse produto foi negativo. Com a quebra de 25% na safra do milho, os produtores aguardam um posicionamento do governo para reter o grão no Mato Grosso, para que os custos não aumentem mais tornando inviável a atividade”.

Por fim, Rodrigues afirmou que o arroz ou o sorgo, que são opções para substituir o milho, não atendem a região. O arroz não é produzido no estado e o frete encareceria o produto. O sorgo, que não é uma commodity, tem o seu preço baseado na cotação do milho, fato que também encarece a aquisição. “Nós produzimos milho e aqui fica barato e compensa. Agora que o cereal está escasso, todos o querem e quem fica sem somos nós”, finalizou.