Redação (02/03/2009)- As projeções para o crescimento da economia brasileira em 2009 ainda seguem bastante divergentes. A Economist Intelligence Unit (EIU) projeta queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5%, ao mesmo tempo em que a LCA Consultores estima alta de 2,5%. A tendência de bancos e consultorias, porém, é de revisar para baixo as previsões, devido à perspectiva de que o cenário externo continue ruim por bastante tempo, às condições desfavoráveis do crédito e à deterioração do mercado de trabalho. Mesmo a LCA diz que a "incerteza global persistente" eleva de 35% para 40% a possibilidade de concretização do "cenário adverso", no qual o PIB cresceria 1,2%, e não 2,5%. As estimativas são de que, em 2008, a expansão superou 5%.
O economista-chefe do JP Morgan, Fábio Akira, prevê crescimento de 0,8% para 2009, mas diz que a projeção tem "viés de baixa". O seu número pressupõe um cenário externo mais benigno no segundo semestre, que abra espaço para uma retomada mais forte do Brasil. "A questão é que esse quadro internacional mais positivo a partir da segunda metade do ano está cada vez mais contestado."
Divisão de pesquisa do grupo que edita a revista britânica "The Economist", a EIU aposta que a economia global terá uma contração de 1,9% em 2009, um dos motivos que levaram a consultoria a reduzir a projeção de expansão do Brasil de uma alta de 1,6% para uma queda de 0,5%. "Nós mantemos a visão de que o Brasil está entre os países mais preparados para emergir rapidamente e de forma sólida da recessão global, mas a crise tem se mostrado tao dramática e o cenário internacional tem se deteriorado de maneira tao rápida que ficou claro que o Brasil sera fortemente afetado este ano", diz Érica Fraga, analista para a América Latina da EIU. Ela projeta um recuo de 5,4% para o volume exportado de bens e serviços neste ano.
O panorama para a demanda doméstica também é muito negativo. O JP Morgan e a EIU projetam quedas acentuadas para a formação bruta de capital fixo (FBCF, que mede o que se investe na construção civil e em máquinas equipamentos), de 5% e de 8%, pela ordem. Akira observa que o relatório do Banco Central sobre o crédito em janeiro mostrou um cenário complicado nas operações voltadas para as empresas. Segundo ele, as novas concessões para pessoa jurídica caíram algo como 10% em relação a dezembro, na série livre de influências sazonais.
Além das condições de crédito mais difíceis, a confiança do empresariado segue em níveis baixos, dado a expectativa negativa para a demanda, interna e externamente. "Deve haver uma contração forte do investimento privado, que não será compensada pelo aumento do investimento público", diz Akira. Em 2008, a União investiu R$ 28,2 bilhões. Ainda que o governo federal aumente esse número em 50% neste ano, o impacto não será dos mais significativos.
O consumo das famílias, por sua vez, deve sofrer uma desaceleração expressiva. A deterioração do crédito é um dos fatores que vão atingi-lo, lembra Erica, que projeta queda de 0,8%, um resultado muito pior que os 6,2% estimados para 2008. A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, também acredita em perda de fôlego do consumo das famílias, mas estima uma alta de 2% em 2009. Além da piora do crédito, ela ressalta o impacto negativo do desaquecimento no mercado do trabalho, o que afeta a confiança do consumidor. Para o PIB, Marcela projeta alta de 1,5%.
Para completar, uma "herança estatística" (o carry over, em economês) desfavorável ajuda a puxar para baixo as previsões para o crescimento neste ano. Segundo a Tendências, se o PIB tiver recuado no quarto trimestre do ano passado 2,3% na comparação com o terceiro, o carry over para 2009 será negativo em 0,6%. Isso significa que, se a economia não crescer nada em relação ao patamar do fim do ano passado, o PIB vai recuar 0,6%.
Mas há quem tenha projeções menos pessimistas. O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, acredita num crescimento de 2,2%, embora sua previsão seja mais alta em grande parte por motivos relacionados à metodologia de cálculo das contas nacionais. A expectativa generalizada é de que a produção industrial cairá neste ano, mas o mesmo não deve ocorrer com a indústria no PIB, diz ele. O ponto é que a extração de petróleo e gás tem peso bem maior na segunda, explica Montero. Como o setor deve ter um resultado razoável neste ano, tende a puxar para cima o número da indústria no PIB.
Segundo ele, três grupos importantes do setor de serviços – administração pública, intermediação financeira e aluguéis, com peso de 27% do PIB – servirão como um "amortecedor" para a desaceleração da economia. Ele observa que a intermediação financeira, para a qual projeta alta de 6,7% neste ano, é medida pela evolução do volume do spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram para emprestá-los). "E ele crescerá, como consequência de um spread maior sobre um estoque de crédito mais elevado." Para a administração pública, Montero estima crescimento de 2,2%. "Ela segue basicamente a expansão do contingente de funcionários, que não deve diminuir de 2008 para 2009."
O economista Bráulio Borges, da LCA, lista outros fatores para justificar a sua previsão de um PIB de 2,5% neste ano. Um deles é a crença de que a política fiscal exercerá um papel importante para estimular a demanda. Ele estima que o recuo do superávit primário de 4,1% do PIB em 2008 para 3,3% do PIB em 2009 pode contribuir com 0,6 ponto percentual para o crescimento da economia – Montero também acha que o expansionismo fiscal pode ajudar o PIB neste ano. Borges cita o impacto positivo do aumento de 12% do salário mínimo sobre o consumo das famílias para justificar a sua previsão para o PIB, assim como a expectativa de que a queda dos juros reais terá impacto positivo sobre a atividade econômica. Ele vê ainda com otimismo a recuperação da indústria automobilística no começo do ano, ressaltando o efeito do setor sobre vários outros segmentos.