Redação (29/10/2008)- Os setores agropecuário e exportador brasileiros devem se fortalecer com a crise financeira internacional, principalmente pelas mudanças que estão ocorrendo no câmbio, apesar de a crise estar tirando o sono de muita gente ao redor do mundo. A avaliação é do presidente da Associação de Produtores e Exportadores de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.
Segundo ele, o patamar de equilíbrio para que a agropecuária nacional continue crescendo seria o dólar na faixa de R$ 2,20. "A agricultura vinha sendo prejudicada com o câmbio. Bem ou mal, esse novo patamar é um fator de aumento de competitividade para a agricultura brasileira", explicou Camargo.
Ele considera que a crise chegou num momento em que o país estava preparado, o que deve ajudá-lo a sair dela mais rápido. "O Brasil teve o fator positivo de ter reserva, o que nunca teve", explicou.
Para Camargo, a agricultura terá ainda mais importância para compensar possíveis quedas das exportações de outros setores. "É a exportação agrícola que vai agüentar o rojão. Nos próximos dois anos, a agricultura vai ter um papel fundamental para manter a balança comercial e de pagamentos. Por isso, é importante que se plante agora", disse.
Para que o setor exerça o papel que se espera dele, Camargo disse que "a curto prazo é preciso aumentar as linhas de crédito para exportação, ou ter uma linha que funcione", e a médio prazo, aumenta a necessidade de se pensar uma reforma tributária, "pois, claramente, a vida vai ser mais difícil".
Ele ressaltou que o problema que tem levado os produtores rurais a cobrar medidas rápidas do governo se deve ao fato de o crédito ter desaparecido num momento estratégico. "Está no momento do plantio e já foi vendido muito fertilizante. Falta muito? Não. O problema é que o crédito foi para zero. As tradings tiveram um papel cada vez mais importante e o crédito delas também foi para zero", alertou.
Mesmo assim, o dirigente se mostra otimista. "A crise atrapalhou muita gente, mas a nós, dos setores agropecuário e exportador como um todo, vai beneficiar. Mas demora ainda, demora de três a quatro meses para ver os resultados quando muda o câmbio".
O setor de suínos está estável, garantiu Camargo, acrescentando que não há grandes estoques no mundo, o que mantém o preço. Segundo ele, o mesmo não ocorreu com a carne bovina, porque a Rússia, maior mercado consumidor, tinha estoques do produto e pressionou para rever os contratos. O país também é o maior comprador da carne suína brasileira, sendo o destino de 40% das exportações.
Este ano, na avaliação do presidente da Abipecs, o setor deve arrecadar US$ 1,8 bilhão com a exportação de cerca de 600 mil toneladas de carne suína. O valor é semelhante ao alcançado no ano passado, e Camargo disse que a tendência é se manter. "Não está na hora de crescer. Com a crise, é hora de manter mercados. É importante que o mercado interno se mantenha estabilizado para que não tenhamos que compensar nas exportações, o que será difícil", explicou.
Camargo disse ainda que as negociações com outros países levam tempo, principalmente quando se trata de questões sanitárias, mas afirmou que há vários mercados potenciais em perspectiva. Este ano são aguardadas missões de técnicos e empresários das Filipinas, da África do Sul e da Venezuela, e para o próximo ano da China, da União Européia e do Japão. Os maiores concorrentes do Brasil no mercado internacional de carnes suínas são os Estados Unidos e a União Européia.