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Economia

Setores desonerados, como o de carnes, garantem 18% da exportação brasileira

Entre os bens industrializados (manufaturados e semimanufaturados), a participação dos "desonerados" no total sobe para 35%.

Setores desonerados, como o de carnes, garantem 18% da exportação brasileira

Os 31 setores industriais que foram beneficiados pela troca da contribuição na folha de pagamentos por uma taxa sobre o faturamento foram responsáveis por 18% dos US$ 160 bilhões exportados pelo Brasil de janeiro a agosto deste ano. Entre os bens industrializados (manufaturados e semimanufaturados), a participação dos “desonerados” no total sobe para 35%. O governo desonerou 40 setores, sendo nove deles da área de serviços.

A maioria dos setores que entraram no anúncio feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, possui produção voltada mais ao mercado interno, mas alguns incluídos no pacote, como papel e celulose, possuem uma parcela significativa de produtos voltados ao mercado externo – que agora ficam um pouco mais competitivos, pois o faturamento destinado ao exterior é isento da nova contribuição. No primeiro trimestre do ano, 87% da produção do setor de celulose (um dos segmentos incluídos na última leva) foi exportada. O segmento de calçados, incluído na primeira lista, em dezembro, espera que os efeitos do ganho de competitividade comecem a fazer efeito até o fim do ano. O setor exportou 13,8% da produção no primeiro trimestre.

A compilação feita pelo Valor com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) fez uma estimativa conservadora do valor exportado pelos 40 setores (31 deles industriais) ao tirar o segmento naval e o de fabricação de forjados de aço – por serem muito abrangentes e com difícil mensuração de dados na base estatística do comércio exterior.

Para o professor da Unicamp Julio Gomes de Almeida, as exportações da indústria brasileira certamente estarão mais competitivas no ano que vem, quando o coquetel de medidas que vem sendo tomadas pelo governo vai ter efeito pleno. A desvalorização do câmbio no nível de R$ 2, a desoneração na folha de pagamentos e a queda do custo da energia elétrica devem provocar queda de 7,5% no custo total da indústria, em média, segundo cálculos do professor. “Além disso temos o Reintegra. Somando tudo dá quase 10%, que é um ganho alto”, afirma.

Outra conta que ele faz é sobre o impacto das desonerações nas exportações de bens manufaturados (sem considerar os semimanufaturados). Segundo ele, os setores que foram alvos do governo representam cerca de 50% das vendas ao exterior desse tipo de produto – que possui grau maior de industrialização que os semimanufaturados. “No geral, como não incide a taxa sobre o faturamento, essa parcela ganhou 1,5% de abatimento no custo em média”, avalia Gomes de Almeida.

A segunda “leva” de desonerações – anunciada no primeiro semestre e que entrou em vigor no início do mês passado – continha 11 setores com produção física também voltada à exportação. Apesar de ser um número menor do que os 20 setores que se enquadram na mesma definição e que compuseram a terceira parte do pacote, o peso na balança no acumulado dos oito primeiros meses do ano é mais significativo: US$ 19,9 bilhões. As indústrias que foram incorporadas à mudança tributária na semana passada somaram US$ 9,5 bilhões no período.

Poucos setores são fortemente exportadores entre os últimos 20 segmentos industriais desonerados. Três setores – aves e derivados, pneus e câmaras de ar e papel e celulose – foram responsáveis por US$ 6,9 bilhões em vendas ao exterior de janeiro a agosto.

Entre os setores incluídos no anúncio do ministro e depois excluídos e que na sexta-feira voltou a ser beneficiado, está o de carnes suínas. Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), diz que o setor não estava originalmente nos planos da Fazenda para entrar na segunda leva, mas acabou entrando entre as emendas do Congresso. Segundo ele, quanto mais mecanizada a produção, maior será o efeito, quando a medida for adotada para o setor.

“Não somos mais baratos como antes. Hoje temos o preço igual ao dos Estados Unidos. Aqueles que possuem abate industrializado vão se beneficiar, pois usam mais mão de obra”, diz, para depois demonstrar otimismo em relação ao aumento das exportações para 2013, que perderam espaço frente à produção total. Se hoje ela está em 18%, há alguns anos ela chegou a 24% de acordo com Neto.

A perspectiva de que os efeitos sobre os custos ainda vão demorar alguns meses para beneficiar mais concretamente o setor também está presente para aqueles que estavam na primeira onda de desonerações. A Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) registra queda de 5,2% na produção voltada para a exportação de janeiro a agosto de 2012 ante o mesmo período do ano anterior.

Esse movimento também foi captado pela pesquisa da CNI, que aponta que, em 2010, 16,4% da produção de calçados foi vendida ao exterior. Neste ano, a fatia caiu para 13,8%. De acordo com Heitor Klein, diretor-executivo da associação, a perspectiva é que a nova coleção de calçados já tenha, no preço, o efeito de algumas medidas.

“Vai dar para sentir melhor o potencial. Esse sistema favoreceu os exportadores, mas ainda não é possível calcular em termos absolutos. A partir deste mês começam os embarques para a nova estação. Acho que deve ser revertida a tendência de queda no volume exportado que temos verificado”, afirmou.

A perspectiva de melhora nas exportações da indústria no ano que vem, no entanto, passa pelo cenário externo. Segundo Julio Gomes de Almeida, o ganho com a desvalorização do dólar, em março, foi compensado pelos grandes produtores de manufatura. “O ganho foi solapado pela queda da demanda externa. O desempenho das exportações também vai estar atrelado à economia mundial. Mas as condições para o ano que vem estão melhores do que no início deste ano”, diz ele.