Redação (23/10/2008)- "Ninguém sabe muito bem o que vai acontecer. O câmbio e o preço das commodities caindo são bons para o exportador. Mas o mercado paga e consome menos. O quadro é muito confuso", afirmou ontem o diretor executivo da Abef, Christian Lohbauer, baseado no que aconteceu no Salão Internacional da Alimentação (Sial), em Paris. Mesmo assim, ele aposta em crescimento de 10% nos volumes a serem embarcados no próximo ano, dentro da média histórica dos últimos 20 anos, mas abaixo dos 18% de 2008. O dirigente não arriscou projeções quanto a faturamento. Hoje é o último dia oficial do Sial, quando muitos estandes já começam a ser desmontados e há pouca negociação.
Lohbauer fundamentou a previsão de crescimento no Oriente Médio, Hong Kong e Venezuela. O grande trunfo dos avicultores seria a China Continental, habilitada desde março de 2006. Como o país nunca emitiu licenças de exportação, ele não conta com a abertura efetiva do mercado.
Neste quadro, a saída é exportar para a Índia, mesmo com tarifas de 30% para frango inteiro e 100% para cortes. Antes do Sial, o presidente da Abef, Francisco Turra, esteve em tratativas com o governo indiano, durante a visita oficial do presidente Lula, quando foi firmado acordo, com a África do Sul, para redução de tarifas. "Isso depende de barganha bilateral, pois há um acordo entre a Índia e o Mercosul, e isso vai demorar", comentou Lohbauer.
O quadro de incerteza com que as empresas saem do Sial foi agravado pelo adiamento da emissão de licenças pela União Européia, pela conjuntura da Rússia, que não apresenta aumento na demanda há dois anos, e pela crise financeira. "Na essência do negócio, a crise não é tão horrorosa para o setor de alimentação. Mas a recessão é maior do que se imagina. O mundo vai empobrecer de uma forma geral", disse Lohbauer. Isso foi demonstrado no salão nos preços ofertados pelos compradores, que chegaram a 1,9 mil dólares a tonelada de peito congelado, enquanto a média trabalhada é de 2,9 mil dólares.
Para o diretor-geral de exportações do Grupo Doux, Olivier Morel, a certeza é que a crise trouxe um problema de liquidez, e não de demanda, e, portanto, não se resolve com redução de preço. Ele explicou que o grupo também sofre com a falta de emissão de licenças, já que parte da matéria-prima utilizada nas unidades da Europa é enviada pelas plantas no Brasil. "Mas não sentimos tanto, porque somos bem diversificados", justificou.