Redação (18/02/2009)- Preço menor e custo de produção mais alto. Este é o cenário atual da suinocultura gaúcha. A crise financeira mundial, que já fez o preço do quilo de suíno vivo despencar mais de 40% desde a primeira semana de outubro, traz apreensão e revolta aos produtores. Os independentes, que recebiam, em média, R$ 3,26 por quilo naquela semana, viram a desvalorização acontecer semana após semana, chegando a R$ 1,78 na pesquisa da última terça-feira (10). Já os integrados que receberam R$ 2,65 por quilo nesta mesma época, recebem hoje R$ 1,65. Em algumas regiões, um acordo entre criadores e integradoras garante um preço um pouco mais elevado, que cobre os custos de produção.
Com estes valores praticados no mercado e a alta dos insumos, como milho e farelo de soja, os produtores independentes amargam um prejuízo de cerca de R$ 100,00 por animal terminado. Se o cenário econômico não mudar até março haverá redução da produção e a dispensa de funcionários, ampliando o número de desempregos. Preocupada com a situação, a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS) busca alternativas para driblar uma das piores crises que a suinocultura gaúcha já enfrentou.
Criadores estão desanimados
Mauro Gobbi, produtor de Rondinha, diz que não há possibilidade para manter a produção nestas condições. “Estamos perdendo R$ 100 por suíno terminado. Nunca houve um prejuízo tão grande na suinocultura. O ano passado foi positivo, mas as reservas que acumulamos acabaram. O prejuízo que estamos tendo agora é muito alto”, afirma.
Uma das saídas, segundo Gobbi, seria a intervenção do Governo, com a compra da carne suína que estaria sobrando no mercado interno e buscando abrir novos mercados. “É revoltante ir ao mercado e ver os preços da carne suína sabendo que o valor ganho pelo produtor é muito inferior. Também tem muito jogo nisso. O Rio Grande do Sul está exportando, não há motivos para pagar tão pouco para o produtor”.
Na granja da família Acadrolli, em Rodeio Bonito, a situação também traz preocupação. A granja, que envia 1.500 suínos para abate por semana, já superou outras crises. Mas nenhuma delas, segundo Rafael Acadrolli, teve um custo de produção tão alto. “Hoje nosso custo de produção é R$ 2,50 por quilo, mas recebemos em torno de R$ 1,70. Como vamos manter a estrutura em funcionamento com este prejuízo? O tempo está passando, são três meses acumulando perdas e os números não fecham mais. Os produtores independentes estão muito preocupados”, desabafa.
Caso o valor pago ao suíno não reaja até março, medidas drásticas, como a demissão de funcionários, podem ser tomadas. “Com estes valores não dá para sobreviver. Vamos diminuir gastos ao máximo e, se for necessário, nos desfazer dos leitões. É mais vantajoso do que ter prejuízo depois”, observa.
No ponto de vista do produtor, a situação poderia ser diferente se o Governo adotasse medidas de auxílio ao setor. “O Governo não toma atitude. Se cortasse o ICMS de 17% sobre a carne comercializada pela indústria ao supermercado o consumo seria ampliado. Mas você vai ao mercado e vê que estão cobrando R$ 8 o quilo, mas o produtor ganha menos de R$ 2”, observa Rafael.
Edson Zancanaro, cuja mini-integradora, sediada em Barão de Cotegipe, produz 100 mil suínos terminados por ano, diz que o momento é péssimo. Ele também afirma que o prejuízo por animal terminado, com peso médio de 105 kg, chega a R$ 100. “Depois da segunda quinzena de janeiro o prejuízo se intensificou. Passou de 50 a 60 reais por animal para R$ 100. Vai faltar ‘fôlego’ financeiro para o produtor e ele vai ter que acabar com o plantel. Dependendo do volume que ele tem, vai comprometer a propriedade”, afirma Zancanaro.
Ele diz que está difícil gerenciar custos e que não há mais onde fazer cortes. “Tem custos que não tem como cortar. Temos que manter a alimentação equilibrada para não termos mais prejuízo. O farelo de soja e o milho estão muito caros. Esperamos que a colheita da safra reduza um pouco estes custos”.
Uma das saídas para a crise, segundo Edson, seria a liberação de recursos de custeio para manter os produtores na atividade. Para tanto, é necessária uma flexibilidade maior por parte dos bancos, já que estes estão mais cautelosos, pois a crise fez a atividade ser vista como de risco. Outra solução, mesmo que momentânea, seria a liberação de recursos para a estocagem da carne. “Assim não teríamos prejuízo. Deixaríamos a carne estocada para comercializar quando os preços estiverem mais condizentes com os custos de produção. A apreensão e o prejuízo são grandes”, lamenta Zancanaro.
A realidade para os integrados da Região do Grande Cerro Largo é um pouco diferente. Conforme o vice-presidente da ACSURS e presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Grande Cerro Largo, Delmar Limberger, os produtores de leitão integrados também estão tendo prejuízo, mas em menor escala. Aqueles que possuem uma produção de 24 leitões/porca/ano estão conseguindo cobrir os custos. Os que têm um índice menor operam com prejuízo. “Estamos preocupados, principalmente com o aumento do custo de produção. É lamentável. Em 2005 recebíamos R$ 2,75 por quilo e o salário era inferior a R$ 300,00. Hoje tudo aumentou. O salário, a matéria-prima e os medicamentos. Só não subiu o que produzimos, recebemos menos do que há quatro anos. Se a crise existe é porque alguém está ganhando dinheiro. Se não fosse benéfica para alguém ela não iria durar. E nós produtores mais uma vez estamos perdendo”.