O governo está assistindo, passivo, a uma piora da situação dos exportadores, que poderá ter graves consequências para os níveis de emprego e para as contas externas, acusa o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca. Ele argumenta que vem crescendo o diferencial das taxas de juros do Brasil em relação a outros países, o que atrai capital especulativo para aplicações em renda fixa, provocando a desvalorização do dólar e minando a competitividade dos exportadores.
“Estamos tentando correr com pés amarrados, e o governo assiste isso de forma passiva, sem um apoio agressivo para fortalecer o exportador”, queixa-se Giannetti. Ele defende que o BC reduza as taxas de juros mais agressivamente, para níveis como 6% a 7%, ou estabeleça “travas” de câmbio, com restrições à entrada de moeda estrangeira dirigida a aplicações de renda fixa. Entre as medidas possíveis, sugere o aumento de IOF para retirada de capital em curto prazo, ou uma “quarentena” na entrada de recursos estrangeiros. “O capital para a bolsa deve ser livre, porque tem risco, mas, com esse diferencial de juros, deixar entrada livre para aplicação em renda fixa é tirar doce de criança”, afirma.
Giannetti reclama que o governo não vem comprando dólares em volume suficiente, nem reduzindo os juros na medida devida para ter efeito relevante sobre o mercado de câmbio. “A questão da valorização cambial está pegando agora, e pode enterrar fundo os sinais de recuperação que começaram no início do ano”, diz o empresário, que é, também presidente da associação das indústrias exportadoras de carne, a Abiec.
A falta de acordo para passivos tributários, como a dívida do crédito-prêmio de IPI, causa bilionária em disputa na Justiça, também fragiliza a situação dos exportadores e dificulta ainda mais a obtenção de crédito, diz ele. “O financiamento foi anunciado pelo governo, mas não está chegando na ponta. Os bancos não confiam na capacidade de pagamento dos exportadores, e criam mais esse constrangimento às empresas.”
Giannetti calcula que a indústria exportadora gere cerca de 10 milhões de empregos e que uma queda de 20% no desempenho do setor pode provocar uma redução equivalente de postos de trabalho. Para argumentar que não está fazendo terrorismo, dá exemplos de decisões recentes de redução de quadros de pessoal, como as demissões anunciadas pela Usiminas neste mês.