A SLC Agrícola, uma das maiores companhias agrícolas do país, com faturamento de R$ 1 bilhão em 2011, está ampliando seus volumes de venda direta de algodão para clientes da Ásia, sobretudo empresas têxteis chinesas. Negócios em escala experimental começaram a ser realizados em 2010, foram ampliados em 2011 e devem crescer 20% em 2012, segundo o presidente da empresa, Arlindo Moura. Sem intermediários (tradings) na operação, a empresa tem obtido receita 8% superior às cotações praticadas na bolsa de Nova York.
Os volumes ainda representam menos de 10% da produção de algodão da companhia, que na última safra foi de 150 mil toneladas. “Mas têm potencial para avançar”, afirmou o executivo, sem revelar metas.
A SLC Agrícola é a segunda no país a adotar a venda direta da pluma. Em 2010, produtores de médio e grande portes do Cerrado brasileiro criaram a Libero Commodities, uma trading que também “vende” o serviço de entrega da pluma “sob medida” – ou seja, exatamente nas características solicitadas pelo cliente no exterior. Na safra passada, a Libero negociou diretamente cerca de 100 mil toneladas da commodity.
Essa modalidade vem ganhando força com algodão porque, apesar de ser uma commodity, a pluma tem especificações (comprimento do fio, resistência, impureza, cor, etc) que variam muito e, se não atendidas conforme o pedido do cliente, podem atrapalhar o processo fabricação na indústria têxtil e de fiação, explica o executivo.
“Por isso, muitos clientes nos procuram para realizar essa negociação direta”, conta Moura. A China, particularmente, vem buscando, em operações de venda de insumos ou compra de produtos agrícolas, reduzir o número de intermediários e se aproximar do cliente final.
Em média, 75% do que a SLC Agrícola produz de algodão segue para exportação, sendo que quase a totalidade é negociada com as tradicionais tradings de commodities, como Cargill, Louis Dreyfus, Plexus, Olam, Toyoshima, etc, conta Moura.
Em 2010, a companhia realizou o embarque experimental de 1 mil toneladas da pluma vendidas diretamente. No ano seguinte, o volume subiu para 10 mil toneladas. “E para 2012 projetamos avançar pelo menos 20%”, afirmou o executivo.
O negócio vem significando o recebimento de um valor 8 centavos de dólar acima das cotações na bolsa de Nova York, que ontem fecharam a 92,70 centavos a libra-peso (contrato para julho). “Se houvesse intermediação, a margem da trading seria de 3 a 4 centavos de dólar por libra-peso”, calcula Moura.
No ganho de 8 centavos na venda direta já está descontada a despesa com frete, gasto que, na negociação com tradings, não existe diretamente (está embutido na margem da trading). Antes de iniciar os embarques, conta Moura, a companhia teve que levantar o impacto do transporte no preço da commodity. “O frete da fazenda até o porto é o mais dispendioso e equivale a 8 centavos de dólar por libra-peso de algodão. Do porto no Brasil até o porto na Ásia, esse valor é de 1 centavo de dólar por libra-peso”, diz o presidente da SLC.
Indústrias de fiação e têxteis da Coreia, de Taiwan e de outros mercados asiáticos também estão entre os clientes diretos da companhia. “Mas o maior, obviamente, é a China que compra metade do algodão do mundo”, reforça. Ele diz que estuda estender essa modalidade de negócio a outros continentes. “Mas antes, temos uma curva de aprendizagem a percorrer”, completa.
Nos últimos dois anos, o algodão representou 38% da área plantada da SLC Agrícola e é o produto com a maior margem de lucro, garante o executivo. Nesta temporada, cuja colheita iniciará em maio, a área cultivada com a pluma cresceu 10 mil hectares, de 85 mil para 95 mil hectares.
Boa parte da produção prevista já foi comercializada no ano passado. Segundo o executivo, 84% da safra já foi vendida ao preço médio de 1,01 centavo de dólar por libra-peso. Nesta safra, a empresa cultivou no total 248,3 mil hectares, dos quais 114 mil com soja, 95 mil com algodão e 35 mil com milho.