Redação (17/03/2009) – Seis meses após o agravamento da crise financeira mundial, o saldo no agronegócio é de insolvência de quatro usinas de açúcar e álcool e de outros seis frigoríficos. Algumas dessas empresas já estavam com dificuldades antes, mas o enxugamento de crédito no País definhou a condição de continuar operando. Outras, estavam bem financeiramente, mas viram suas vendas e , seu capital de giro, desaparecerem. Desde outubro o Governo Federal liberou quase R$ 99,8 bilhões do compulsório para irrigar o sistema financeiro brasileiro. Mas, o consenso é de que o crédito está chegando para poucos e a um custo muito elevado.
"Temos vistos indústrias bem organizadas financeiramente reclamarem que não estão conseguindo capital de giro. Imagino o que não está acontecendo com as outras", disse Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef) em entrevista na última semana. Ele comemorou o fato que o setor não estar na situação dos produtores de carne bovina, com preços e vendas em queda e muitos pedidos de recuperação judicial. "Mas estamos por um fio", afirmou Turra a jornalistas na semana passada.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) não participou da reunião no Palácio do Planalto que teria esquematizado propostas para socorrer os frigoríficos. "Não participamos. Trata-se de uma tentativa para tentar aliviar a falta de capital de giro do setor", diz Otávio Cançado, diretor-executivo da Abiec. "O problema é que a liberação do compulsório está indo para o caixa dos bancos e o setor produtivo não está tendo acesso a esse crédito", protesta Cançado.
O diretor-titular do Departamento do Agronegócio (Deagro), Benedito Ferreira, diz que outra medida que o setor está pleiteando para irrigar a atividade com crédito é a isenção de Pis e Confins, que incide em 9,25% nas operações de exportação e mercado interno. "Teremos amanhã uma reunião no Ministério da Fazenda para tentar avançar no assunto", afirma Ferreira. Além disso, o pleito é de que sejam liberados pelo governo os créditos tributários das empresas, para que estas possam destinar o recurso para capital de giro.
O próprio frigorífico Independência, que entrou com pedido de recuperação judicial no dia 27 de fevereiro, tinha R$ 250 milhões "empossados" em créditos tributários, "que poderiam estar no caixa da empresa", conforme relatou o presidente da empresa, Antônio Russo, em coletiva à imprensa no dia 2 de fevereiro. O valor representa mais de um terço do faturamento do terceiro trimestre da companhia (R$ 700 milhões).
"Vamos fazer uma audiência pública no Congresso amanhã para discutir esse assunto. Estimamos que somente o frigorífico Independência deixou de pagar a compra de 180 mil a 190 mil animais. Vamos propor que o Ministério Público interfira para dar preferência aos pecuaristas no recebimento desses créditos na recuperação judicial, até mesmo com o arresto dessa carne" disse ontem o senador Gilberto Goellner (DEM-MT).
Com o histórico recente de liberação do compulsório pelo governo e de não repasse desse recurso ao setor produtivo, as usinas sucroalcooleiras temem que algo parecido ocorra com os R$ 2,5 bilhões aprovados pelo governo para financiamento da estocagem de álcool na safra 2009/10. O recurso será liberado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e operacionalizado pelos agentes credenciados. "O problema vai ser quem vai conseguir pegar esse recurso. Provavelmente serão poucas usinas, o que eleva o risco da estratégia dessas empresas, pois esse investimento não será pulverizado no setor, mas concentrado em algumas. Essas podem ter receio de carregar esses estoques até o final, sem garantia de preços mais remuneradores", avalia José Carlos Toledo, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop). Para União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), o mais importante é que esse dinheiro retire do mercado 5 bilhões de litros, e ajude a reduzir a oscilação forte dos preços, segundo o diretor-técnico da entidade Antônio de Pádua Rodrigues.
Em outras safras, o governo liberou linhas de financiamento de estoques de álcool, mas que não resultou em muito êxito, pois muitas usinas tinham restrições de crédito no Banco do Brasil, que foi o único autorizado a operar o crédito.