O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária, Francisco Jardim, afirmou ontem (8) que o Brasil espera reverter o embargo russo ainda neste mês. Na semana passada, o governo daquele país anunciou que a partir do dia 15 deste mês estaria vetando as importações de carnes de três estados brasileiros, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, impedindo os embarques de 85 indústrias frigoríficas.
O veto seria em função de não conformidades relativas à questão sanitária. Jardim, que participou do primeiro dia de debates do Congresso Internacional da Carne, que está sendo realizado em Campo Grande (MS), disse que o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, enviou uma carta ao primeiro-ministro russo, Vladimir Puttin, reforçando que o Brasil cumpre as regras definidas pela Rússia e que o ministério aguarda retorno de agenda para reuniões em Moscou para a próxima quinzena do mês. “Com a entrega do nosso relatório, esperamos a suspensão do embargo imediatamente”.
O secretário de Defesa Agropecuária disse ainda que apesar do anúncio de veto às importações brasileiras de carnes bovinas, suínas e de aves não houve confirmação do embargo a partir do dia 15. Segundo ele, desde o dia 18 de maio já estava estabelecida para junho uma viagem à Rússia justamente para se discutir possíveis observações do governo russo, porém o anúncio do embargo veio primeiro que o próprio relatório e a viagem da missão brasileira.
Jardim conta que na listagem de exigências do governo russo existem 58 elementos que devem ser atendidos, no entanto alguns itens que, por exemplo, pedem testes para investigação de estrôncio não é necessário pela ausência deste metal tóxico na produção nacional de carnes. “O Brasil não tem fatores de risco como esses. Se formos atender a tudo, nossa produção encarecerá e é isso – esse risco zero ou nulo para determinadas exigências – é que deve estar bem entendido e faz parte da nossa missão lá em Moscou”. O secretário destaca que apesar do risco zero, laboratórios estão fazendo a amostragem para confirmar o argumento brasileiro, mas que a contratação permanente desses laboratórios é algo inviável ao país, em razão dos custos. “O Brasil, que ocupa posição de destaque no mercado internacional, não pode mais permitir que se discutam coisas sem sentido, como parece ser este embargo. Fazemos tudo que o mercado quer. Mesmo sem os russos fazerem parte da Organização Mundial do Comércio (OMC) existem acordos bilaterais que são cumpridos. O Brasil está fazendo a lição de casa”.
A participação da Rússia na OMC, por exemplo, é um dos motivos que justificariam o embargo às carnes brasileiras, pelo menos na opinião do ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes. “O veto é uma questão político-diplomática. Por não estar na OMC, a Rússia pode agir de forma menos responsável em relação às regras do mercado e, assim, chamar a atenção para necessidade de ela integrar a Organização, inclusive com aval do Brasil”.
Questionado, o secretário de Defesa Agropecuária, Francisco Jardim, explica que o Mapa não pode entrar na discussão sobre questões políticas ou sanitárias. “Temos de nos basear em critérios técnicos e discutir a situação neste nível e reverter a situação o mais breve possível”.
O consultor da Agripoint, Miguel Cavalcanti, não concorda com as justificativas relativas à OMC. “Existem mais coisas envolvidas. É um jogo de interesses. Eu não acredito que o embargo tenha sido motivado apenas em função da OMC, ou uma estratégia para resfriar o mercado e reduzir os preços internacionais do quilo das carnes, principalmente de aves e bovinos”.
Mato Grosso – A Rússia é atualmente o maior consumidor de carnes do Brasil e em Mato Grosso respondeu em 2010 por 93% dos embarques suínos. O embargo afetou 21 indústrias de abates e processamento de bovinos, suínos e aves no Estado. Dessas, 17 são frigoríficos de bovinos – mas deste número apenas 11 plantas estão em atividade – e o restante é de aves e suínos. Em relação às plantas de bovinos, estão suspensas as compras do JBS/Friboi (Barra do Garças, Pedra Preta, Araputanga e São José dos Quatro Marcos), Agra (Rondonópolis, frigorífico misto com abates de bovinos e suínos), Guaporé (Colíder), Marfrig (Tangará da Serra e Paranatinga), Sadia (Várzea Grande), Perdigão (Mirassol D´Oeste), Vale Grande (Sinop) e outras duas de suínos (Agra e Intercop) e duas de aves.