Redação (09/10/2008)- O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou hoje, ao anunciar o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de grãos 2008/09, que medidas adicionais ao setor agrícola, para combater a falta de liquidez, podem ser anunciadas até a semana que vem. Entre elas está a liberação de recursos para os bancos privados, por meio de depósitos compulsórios. Segundo ele, a área técnica do governo avalia o montante que precisará ser alocado para os bancos. Esse valor deve ficar entre R$ 3,6 bilhões e R$ 5 bilhões.
A segunda linha de apoio ao setor, segundo Stephanes, é uma fórmula que possa dar liquidez às tradings, empresas que tradicionalmente emprestam recursos para os agricultores por meio da compra antecipada da produção. Na safra atual, essas empresas restringiram essa linha de crédito por causa da volatilidade dos preços dos alimentos no ano passado e também em virtude da crise financeira que as obrigou a remeter recursos para suas matrizes.
Mesmo diante desse quadro, o ministro demonstrou otimismo. "Não deverá faltar crédito", afirmou ele. A área deve crescer 1,2% a 2,7% em relação ao período anterior. A produção agrícola deve oscila ente 142,03 milhões a 144,55 milhões de toneladas. Na safra anterior, a produção foi de 143,8 milhões de t.
Apesar da crise internacional, Stephanes voltou a dizer que a agricultura deve ser um dos últimos setores a ser prejudicado. "Numa crise, o último item que se corta é a comida", disse ele. "Mas se a crise se aprofundar, a agricultura será afetada. Resta saber a dimensão da crise", observou. O ministro comentou que, historicamente, uma crise como a atual dura de 1 a 2 anos e que nesse período é importante a intervenção do governo para retirar do mercado os excedentes de produção.
Ele ressaltou que o governo poderá reforçar os instrumentos de apoio à comercialização, política que deverá ser colocada em prática daqui a seis meses, quando as lavouras estiverem sendo colhidas. "Se preciso, vamos repor os estoques para manter o nível de preço", garantiu.
O ministro disse, ainda, que a demanda mundial por alimentos "está estabelecida" mas que pode haver um crescimento abaixo das expectativas. No entanto, segundo ele, ainda é cedo para dimensionar esses fatores. O ministro informou que os dados divulgados hoje pela Conab mostram que os agricultores vão continuar plantando. Durante a entrevista, ele tentou tranquilizar o setor e disse que é necessário que os produtores continuem produzindo.
Stephanes fez comentário sobre o câmbio, dizendo que "não há lógica para o dólar ficar no nível atual". Na manhã de hoje, por volta das 10h34, o dólar era cotado a R$ 2,45, muito acima de R$ 1,50 no período de plantio. O ministro disse que o dólar acima de R$ 2 é bom para agricultura, já que favorece as exportação. Por outro lado, o dólar elevado dificulta a importação de insumos agrícolas que são importados pelo Brasil.
Perguntado se a falta de crédito no mercado internacional e a queda dos preços das commodities agrícolas poderiam levar a Conab a revisar os números divulgados hoje, o ministro informou que "teoricamente sim". Ele lembrou, no entanto, que a partir do momento que os produtores compram os insumos para o plantio não é possível voltar atrás. "Quando a agricultura começa a rodar, ela não pode esperar", afirmou.
Quanto à decisão da semana passada, de liberação adicional de R$ 5 bilhões para o Banco do Brasil, o ministro disse que esse montante será devolvido. "A fórmula para isso ocorrer nós não sabemos ainda, mas esse dinheiro será devolvido. Se precisar de mais, terá de ser colocado".
O ministro salientou que os números divulgados hoje mostram que houve uma decisão do produtor de plantar mais soja do que milho e algodão. No caso milho, os preços se estabilizaram em nível muito baixo. No algodão, os preços estão deprimidos há pelo menos 2 anos. Para Stephanes, se houver reação nos preços do milho, haverá aumento do plantio da safrinha do ano que vem.