Redação (30/09/2008)- O Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) promoveu na tarde de ontem (29 de setembro) o seminário "Impactos dos custos de transporte sobre a integração regional". O tema foi apresentado pelo economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Mesquita Moreira, um dos autores do livro "Desobstruindo as artérias – o Impacto dos custos de transporte sobre o comércio exterior da América Latina e Caribe", que será publicado nesta semana.
A apresentação de Moreira foi comentada por Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), e por Mário Marconini, diretor de Negociações Internacionais da FIESP.
Moreira disse que houve uma redução da importância das tarifas elevadas sobre o comércio exterior, ao contrário do que acontece com o custo dos transportes. Com a produção mundial fragmentada, a logística e os transportes passam a ter mais relevância. É preciso importar mais para exportar. Com isso, aumenta a importância da infra-estrutura. "Os custos dos transportes são mais altos do que as tarifas. Na exportação da América Latina para os EUA, incide 7,8% de frete, enquanto a tarifa é de apenas 2,7% na média", afirmou o economista. "Gasta-se mais para exportar da América Latina para os EUA do que da Holanda para os EUA".
O economista do BID disse que é preciso trazer essas questões para dentro da política comercial dos países. "O transporte ocupa papel de destaque na agenda de comércio exterior", salientou.
Pedro de Camargo Neto disse que é oportuno trazer este assunto de uma maneira estudada. "Há uma percepção clara: o nó do transporte terá de ser enfrentado." O presidente da Abipecs analisou o sucesso exportador do agronegócio brasileiro nas duas últimas décadas, quando as exportações passaram de US$ 8 bilhões para US$ 40 bilhões. "O Brasil se tornou um líder mundial em vários produtos agrícolas. O que ocorreu? Isso não tem nada a ver com a Rodada Uruguai nem com a Rodada Doha da OMC", afirmou. Camargo Neto explicou que essa trajetória bem-sucedida tem relação com o liberalismo econômico: desregulamentação da economia e reforma tributária, especialmente a Lei Kandir, que estabeleceu a isenção de ICMS nas exportações de produtos agrícolas e seus derivados.
Ele reconhece que houve avanços na infra-estrutura portuária, "um melhor aproveitamento do que já existia. Houve investimentos em terminais de grãos nos portos existentes. Houve uma virada em direção ao Norte. O porto de Santarém passou a escoar soja, que só saía pelos portos de Paranaguá e Santos".
Camargo Neto lembrou, porém, que nos EUA o custo do transporte no escoamento da produção agrícola é bem mais barato do que no Brasil, em função das hidrovias.
"O Brasil ainda está engatinhando nesse tipo de transporte. Terá de fazer isso nos próximos 20 anos. Os portos já estão saturados. Terá de haver novos portos". Sobre as exportações de carnes, o presidente da Abipecs falou do avanço em saúde animal, mas destacou a necessidade de maiores investimentos em infra-estrutura portuária para estocagem. Melhoramos um pouco os portos, mas as artérias estão todas entupidas. No frete, apenas engatinhamos. Precisamos fazer mais em reforma tributária, mais em sanidade, mais em portos e começarmos a reduzir o custo dos fretes. Dos elos, é o que caminhou menos", afirmou Camargo Neto.