Em meio à pior crise energética enfrentada pelo Brasil desde 2001, o grupo suíço Duferco, maior trading de aço do mundo, desembarca no mercado elétrico brasileiro. O braço de energia da multinacional europeia, a Dufenergy, fechou ontem a aquisição de uma participação acionária minoritária na recém-criada Matrix Comercializadora de Energia. A empresa foi constituída em janeiro por dois ex-sócios do Banco BTG Pactual, Claudio Monteiro e José Amorim, e pelo consultor Moacyr Carmo.
Segundo Monteiro, crise significa instabilidade e, portanto, oportunidade para as mesas de comercialização de energia. O atual nervosismo no mercado não assusta, mas abre espaço para quem é especialista em risco e na gestão de contratos no mercado livre, diz ele.
Em 2010, Monteiro e Amorim venderam para o BTG Pactual a comercializadora de energia Coomex, que haviam fundado em 2005. Ambos permaneceram até janeiro de 2013 no banco, onde continuaram respondendo pela mesa de energia.
Com a aquisição da Coomex, que negociava na época 800 MW médios por mês, o banco de Andre Esteves pisou no setor e pôde expandir sua atuação no mercado livre. Atualmente, o BTG Pactual já é considerado a maior trading independente de energia do país e, no ranking total, só fica atrás das comercializadoras ligadas aos dois maiores grupos do setor elétrico, a CPFL e a Tractebel.
“É um privilégio fazer parte da Matrix. Vemos grandes oportunidades no mercado brasileiro de energia”, afirmou Maurizio Cencione, diretor financeiro do Duferco Group, que já atua há vários anos no Brasil, onde a trading suíça negocia aço e commodities. Para a Dufenergy, porém, esse é o primeiro passo na América Latina. O Duferco Group está presente em 50 países e transaciona cerca de US$ 8 bilhões. O braço de energia da multinacional atua basicamente na Europa comercializa em torno de € 2 bilhões anualmente.
A participação da Dufenergy na Matrix não foi revelada. Ela será pequena neste momento, mas pode ser ampliada no futuro. Não está descartada ainda a possibilidade de que a multinacional venha a assumir o controle dos negócios.
Segundo Monteiro, essa é a primeira vez que uma trading estrangeira entra como sócia e aporta capital em uma comercializadora brasileira. A Matrix nasce com uma carteira de 120 MW médios, mas a meta dos sócios é elevar esse volume para 250 MW médios mensais até o fim do ano. Em 2014, a trading prevê transacionar em torno de R$ 400 milhões em contratos de compra e venda de energia.
Na avaliação de Monteiro, o setor passará por uma consolidação, à medida que os riscos associados ao negócio de energia são cada vez maiores, sobretudo agora, com a forte alta dos preços. “Esse é um negócio de capital intensivo”.